ATA DA DÉCIMA OITAVA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 02.06.1989.
Aos dois dias do mês de
junho do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na Sala de Sessões
do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima
Oitava Sessão Solene da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima
Legislatura, destinada a homenagear a República da Itália. Às dez horas e
quarenta e seis minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente
declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao
Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver.
Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Sr. Vittorino
Rotondaro, Cônsul Geral da Itália no Rio Grande do Sul; Dr. Luiz Gehlen,
representando o Governo do Estado do Rio Grande do Sul; Sr. José Carlos Mello
D’Ávila, representando o Prefeito Municipal; Srª Clésia Lima, representando o
Deputado Federal Victor Faccioni; Sr. Antonio Alberti, Presidente do Comitê da
Imigração Italiana no Rio Grande do Sul; Sr. Cármine Motta, Presidente do
Circolo Calabrese do Rio Grande do Sul; Ver. Lauro Hagemann, 1º Secretário da
Casa. A seguir, o Sr. Presidente convidou os presentes a, de pé, ouvirem a
execução dos Hinos Nacionais do Brasil e da República Italiana, e concedeu a
palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Artur Zanella, em
nome da Bancada do PFL, comentou a representatividade do povo italiano em nosso
País e, em especial, em nosso Estado. Analisou as contribuições culturais,
políticas e sociais resultantes da vinda de imigrantes italianos ao Brasil.
Lembrou a vinda de seu avô, funcionário do governo italiano, ao País. Ressaltou
ser autor de Projeto de Lei visando à criação da semana ibero-italiana. O Ver.
Airto Ferronato, em nome da Bancada do PMDB, falou de seu orgulho por
participar da presente homenagem, que classificou como o reconhecimento singelo
desta Cidade a grande colaboração do povo italiano ao progresso rio-grandense e
brasileiro. Discorreu sobre o desenvolvimento hoje observado na Itália. O Ver.
Giovani Gregol, em nome da Bancada do PT, citou texto inicial do livro “A
Divina Comédia” de Dante Alighieri, analisando a importância da arte italiana
dentro da cultura universal. Ressaltou o grande número de nomes mundialmente
famosos que integram o povo italiano e a força desse povo na luta por sua
unificação e seu desenvolvimento até atingir, atualmente, o sexto lugar dentro
da economia mundial. Atentou para a conscientização ecológica, política e
social, existente na Itália, e para a contribuição dada pelos imigrantes
daquele país aos demais países do mundo. O Ver. Cyro Martini, em nome da
Bancada do PDT, destacou ser o solo italiano, há mais de três mil anos, sede de
grandes civilizações, as quais originaram as bases da atual República
Democrática da Itália. Discorreu acerca da força universal da cultura italiana,
historiando sobre a influência das modificações históricas mundiais dentro
dessa cultura. Lembrou as figuras de Giuseppe e Anita Garibaldi como nomes
integradores da Itália e do Brasil. Relatou o processo de unificação e criação
da República Democrática Italiana. O Ver. Omar Ferri, em nome da Bancada do
PSB, dizendo ter sido criado em uma vila cuja população era praticamente toda
italiana, comentou a fusão de culturas ocorrida com a vinda de imigrantes ao
País e a participação dos mesmos em nosso desenvolvimento. Relatou experiências
pessoais de convívio com italianos, nas quais ficou destacado o sentimento de
amor pelo Brasil, assumido pelo povo italiano. E o Ver. Vicente Dutra, em nome
das Bancadas do PDS, PTB, PL e PCB, analisou o significado da homenagem hoje
prestada à República Italiana, dizendo ser ela o reconhecimento da Cidade à
valorosa contribuição italiana a nossa comunidade. Salientou a importância da
comemoração do dia dois de junho, dia da criação da República Democrática da
Itália. Explanou sobre a situação social, política e econômica atualmente
apresentada por esse país. Anunciou o encaminhamento, à Casa, de Projeto de
Lei, dando o nome de “Praça Itália” a um espaço verde da Cidade, e de
Indicação, no sentido de facilitar a voz política do imigrante não
naturalizado. Após, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Cônsul Geral da
Itália, Sr. Vittorino Rotondaro que, como representante diplomático da Itália
no Estado, agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Em prosseguimento, o Sr.
Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade, convidou as autoridades e
personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo
a tratar, levantou os trabalhos às doze horas e vinte e oito minutos,
convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima
segunda-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Valdir
Fraga e secretariados pelo Ver. Lauro Hagemann. Do que eu, Lauro Hagemann, 1º
Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada,
será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.
O SR. PRESIDENTE: Informamos que os Vereadores que farão
uso da palavra, representando as suas Bancadas, serão os Vereadores Artur
Zanella, Airto Ferronato, Giovani Gregol, Cyro Martini e Vicente Dutra.
Convido
os presentes para, de pé, ouvirem a execução dos Hinos Nacionais do Brasil e da
República Italiana.
(São executados os Hinos.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Artur Zanella que
falará em nome da Bancada do PFL.
O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, demais
componentes da Mesa, nesta Sessão, em tão boa hora requerida pelo Ver. Vicente
Dutra, eu fiz questão de falar, apesar de representar uma pequena Bancada, aqui
constituída apenas por mim, de um grande Partido, porque a Itália nos toca, a
nós gaúchos, muito de perto. Tanto no aspecto histórico, que se desenvolve no tempo,
que se poderia apresentar como a imagem de tantos italianos que aqui, em termos
épicos, participaram da vida deste Estado e deste País, se representaria por
José Garibaldi, que numa simbiose perfeita, o leva até às lutas da Reunificação
Italiana, com Anita Garibaldi. Aspectos culturais, então, nem precisamos
mencionar; aspectos políticos muito menos, basta relembrar que de 1954, os
governadores, Meneghetti, Brizola, Meneghetti de novo, Peracle, Triches e
Guazelli, todos eles tinham o sangue italiano em suas veias. E, a mim, me toca,
especialmente, esta contribuição italiana. Eu que fui criado numa cidade da
fronteira, onde a imigração italiana, em vez de ser aquela tradicional que veio
da Europa diretamente para Porto Alegre e, depois, se espraiou por tantas
cidades como Caxias do Sul, Garibaldi, Bento Gonçalves, a nossa imigração, lá,
era de italianos que vinham de Buenos Aires e de Montevidéu. Eu me criei, até
me indagando o que faziam na fronteira, numa terra gaúcha, aquelas famílias
poderosas, como Degrazzia, Mondadori, aquelas outras não tão poderosas, não tão
ricas, como a família de Juvenal Bado, que veio, também, da Itália, por aquele
lado, e até temos, hoje, aqui, o seu filho, que tem uma coluna no Jornal do
Comércio sobre a cultura italiana, o Professor Dione Bado. Então, eu procurei
estudar e ver a influência que esta cultura trouxe para nós, influências todas
elas benéficas, de um país de civilização milenar que, depois de dominar o
mundo durante um longo tempo, se esfacelou. Para onde se vai, aquele que tem
oportunidade de viajar, como eu tive, se vai para Inglaterra, se vai para a
Grécia, se vai ao Egito, se vai a Israel, lá está a presença italiana. E é isso
que, em grandes números, em grandes idéias, eu queria colocar hoje. E, também,
esta participação pessoal de quem teve o seu avô vindo para o Rio Grande do Sul
como funcionário do Governo Italiano. Ele sempre dizia que ele não era
imigrante, que ele era um funcionário do Governo Italiano que tinha vindo,
aqui, para medir e conferir se as Colônias prometidas pelo Governo Brasileiro,
estavam sendo entregues corretamente aos seus concidadãos. Nunca voltou. Por
isso, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, tenho um Projeto, nesta Casa, se não me
engano, de 1988, que cria a Semana Ibero-Italiana, para preparar, quem sabe,
junto com os Órgãos da Prefeitura, a EPATUR, especialmente, - consta do Projeto
-, a grande efeméride que teremos na década seguinte: neste ano, Revolução
Francesa, na década de 1990, Descoberta da América, feita pelo italiano Cristóvão
Colombo. Procurei, também, logo que pude, estudar na Itália, lá em Turino, na
cidade de onde se originou o Movimento de Reunificação Italiana em 1861, com a
Família Savoya; Naquele País que, destroçado pela guerra, teve condições de
fazer um plebiscito, logo após a guerra, não havendo um período de transição de
décadas, o plebiscito que definiu a República Italiana. E, finalmente, Sr.
Presidente, Srs. Vereadores, Sr. Cônsul, faço questão de trazer esta agenda,
que descobri depois do falecimento do meu pai, em que ele começa o seu livro,
escreveu só uma página de texto, e diz o seguinte: “Vai adiante o que se sabe,
ou se pensa saber, dos nomes que aqui se relacionam. Giuseppe e Hermínia,
vindos da Itália, Província de Mantua. Residência inicial, 4º Distrito de
Vacaria, Sede do 4º Distrito de São Luiz, Rei da França, onde nasceram todos os
netos, filhos e demais familiares.” Este foi o início de um trabalho, junto com
a árvore genealógica, que ele quis fazer para tentar resgatar a história do seu
humilde pai. Mas é a história que criou grande parte deste Estado, porque todos
os italianos, ou a maioria dos italianos, que aqui vieram eram pessoas
humildes. Eram pessoas que vieram aqui fazer a sua nova vida e a fizeram
elevando este Estado e este País ao poderio que hoje se vê. Quando se diz que
Porto Alegre tem mais descendentes de calabreses do que a pequena cidade de
Morano Cálabro, na Itália, é que se vê a contribuição que este povo tem para o
desenvolvimento do Rio Grande do Sul. É por isso, Sr. Presidente, que esta Casa
resgata, efetivamente, uma dívida que tinha com este povo, com os seus
descendentes, em boa hora, votou-se esta Sessão Solene. Nós dizemos todos, Sr.
Cônsul, que o Rio Grande muito deve à República italiana e muito pouco faz,
ainda, para que os vínculos tradicionais deste Estado com a Itália sejam cada
vez mais desenvolvidos e espero que esta Sessão seja o início de um trabalho
ainda mais forte destas entidades que sem recursos, sem condições, lutam para
manter viva aquela chama da República e do Império Italiano. Sou grato.
(Revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Airto Ferronato,
que falará pela Bancada do PMDB.
O SR. AIRTO FERRONATO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, irmãos
italianos aqui presentes, demais autoridades, senhoras e senhores, ocupo esta
tribuna para falar em nome dos Vereadores do PMDB desta Casa Legislativa, para
homenagear com grande orgulho e alegria a República da Itália, instituída em 2
de junho de 1946, neste ato representada pelo Cônsul Geral da Itália no Rio
Grande do Sul, Vittorino Rotondaro.
Ensina-nos
a Geografia que o cidadão não deve considerar a esfera nacional como a
comunidade mais ampla possível com a qual possa identificar-se.
Cabe-nos,
hoje, admitir o civismo em função da comunidade internacional.
Nosso
afeto patriótico deve abranger, numa igual e completa cordialidade, os
descendentes portugueses, dos negros, dos espanhóis, dos índios, dos eslavos,
dos alemães, outros povos e hoje, especialmente, da comunidade italiana que
vive em nosso País.
Então,
temos que reconhecer homens, senão semelhantes, seres da mesma natureza e do
mesmo espírito, para quem o povo brasileiro teve sempre abertas, com amizade e
hospitalidade inigualadas, suas casas e suas almas.
Como
ninguém será perfeito cidadão deste mundo se não for, antes, perfeito cidadão
do seu país, quero, nesta condição e como descendente de italianos,
compartilhar convosco o significado desta data, rendendo-lhes esta homenagem,
singela em sua expressão exterior, mas repleta de carinho e gratidão, por tudo
o quanto o povo italiano tem contribuído e representou na formação da Nação
brasileira, ajudando-nos a nos afirmar com personalidade própria no concerto
das nações.
Oriundo
que sou da região colonial do Vale do Rio Taquari, sou testemunha, como de
resto toda a comunidade gaúcha, da história recente e do passado de lutas da
brava gente italiana.
É
com profundo respeito e admiração por este passado laborioso, com a mente no
ontem e com os olhos fixos no futuro, que constatamos, no presente, nossos
vales, no alto dos morros e ao longo dos rios, a nova geração italiana
trilhando o mesmo caminho de prosperidade de seus antepassados, através do
profícuo trabalho de suas generosas mãos, dando-nos a certeza de um amanhã
promissor, como membros homogêneos de uma mesma família, a família
rio-grandense e brasileira. Temos a convicção que, no setor rural, coube à
imigração italiana a importante missão de desbravar, a partir de 1870, nossas
terras, difundindo em nosso meio novas culturas e novas técnicas de conservação
e recuperação do nosso solo.
Este
é o papel mais importante da imigração em um mundo com elevado índice de
crescimento demográfico, dispondo ainda de imensas áreas inexploradas ou
insuficientemente utilizadas.
Sabe-se
também, com efeito, que o imigrante profissional cuja formação nada custa ao
país de imigração, se constitui num capital e numa poupança que pode ser
canalizada para investimentos imediatamente produtivos.
Um
País como o Brasil, empobrecido por uma década, e que era porto de chegada,
virou aeroporto de saída. Os imigrantes do início do século, os homens sem
perspectivas do pós-guerra foram substituídos por seus filhos. Não há mais
navios abarrotados, não há mais canções tristes de pais que deixaram suas casas
para virar carne de macello (carne de açougue), na expressão
tragicamente consagrada das canções napolitanas.
A
Itália de hoje é um país rico, 5ª economia do capitalismo, tem um PIB de 850
bilhões de dólares, uma poderosa economia informal e um mercado sofisticado. Há
duas décadas dizer isto era temerário, era na visão das pessoas uma verdadeira
utopia.
Era
o país das pizzas e das óperas bufas, do passado suntuoso.
Era
também a terra dos Césares, do Renascimento, de Leonardo da Vinci e de Verdi.
Era
também apenas uma bota perdida no Mediterrâneo que hoje se pôs a chutar com
estilo.
É
um dos países que mais encarnou o espírito ocidental. (Não à toa hospeda o
Vaticano, virou centro de uma modernidade possível.)
O
alvo último dos imigrantes, que afinal rompe com seu passado, e em certo
sentido, destroem suas vidas na esperança de dias melhores, acabou deixando de
ser il brasile. Os ítalo-brasileiros voltam os olhos para a Itália viva.
Prova disto foi a feira denominada “Sistema Itália”, realizada entre 10 e 21 de maio de 1988 no pavilhão da bienal do Parque Ibirapuera em São Paulo, onde foram expostas 130 mil toneladas de máquinas, equipamentos e material impresso. Essa feira exigiu US$ 7 milhões, faz parte de um projeto maior chamado “Itália Viva” que teve por objetivo divulgar a imagem de um país moderno e saudável economicamente, por meio, até mesmo, de eventos culturais.
Graças
aos esforços do Embaixador Italiano no Brasil, Antônio Ciarrapico e do Diretor
da Feira Giancarlo Nardi, do Instituto de Comércio Exterior, os empresários
brasileiros puderam conhecer o sistema italiano de trabalhar, com destaque para
a tecnologia avançada de sua indústria e também seu design, famoso e
conhecido internacionalmente.
Esta
feira foi planejada a exemplo da “Itália 2.000”, realizada em Moscou, em
outubro do ano passado, com o mesmo espírito de retratar a imagem de um país
tecnologicamente avançado.
Hoje,
entusiasmados, os italianos já colhem os primeiros resultados através de
acordos já fechados com o governo soviético, objetivando a transformação de 500
mil hectares de deserto em comunidades agrícolas, com habitações para os novos
moradores, galpões para armazenagem das colheitas, sistema de irrigação e toda
a infra-estrutura necessária (luz, estradas, esgoto, escolas, etc.). O Grupo
Ferruzi, que no Brasil controla a indústria de alimentos Cica, realizará esse
projeto.
Os
anos 1980 têm sido extremamente benéficos para a Itália, com uma economia em
ritmo estável e moderado de expansão. A inflação sob controle, a Itália tem
obtido bons resultados com o esforço de saneamento da economia e das estruturas
sociais, já tornou muito lucrativas suas estatais a tal ponto, que emudeceram
os defensores das privatizações.
Na
área política, um saudável espírito prático tomou conta dos partidos italianos,
que discutem soluções concretas.
Finalizando,
senhor presidente e senhores vereadores, é com o coração repleto de júbilo, que
abraço, nesta data, à toda a comunidade italiana que hoje conosco convive,
através de seus representantes aqui presentes, bem como reverenciar a memória
daqueles que, mesmo em sua derradeira morada contribuem no amálgama do nosso
dadivoso chão brasileiro, símbolo definitivo da solidariedade e universalidade
humana. Um dia, Itália, se Deus quiser, nós te faremos uma visita.
Grazzie
Itália, tantíssimi grazzie.
Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Giovani Gregol pela
Bancada do PT.
O SR. GIOVANI GREGOL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, demais
componentes da Mesa, Senhoras e Senhores.
“Da
vida em meio da jornada, tendo perdido o caminho verdadeiro, achei-me
embrenhado em selva escura. Escrever qual fosse tal aspereza umbrosa é tarefa
assaz penosa que a memória reluta em relembrar. Tão triste era que na própria
morte não haverá muito mais tristeza. Mas, desejando celebrar o bem que ali
encontrei, também direi a verdade sobre as outras coisas vistas.”
E
assim, citando o grande e imortal poeta Dante Alighieri, poeta de Firenze,
Florença, é que desejo iniciar a minha homenagem, até porque o sentimento que
perpassava naquele momento pela alma do poeta passa, na maior parte, também
pela minha alma, porque o meio da jornada na qual falava o poeta eram os seus
35 anos da sua vida e eu com 31 anos ainda incompletos também estou quase como
o poeta no meio da jornada e também tenho receio de aqui cumprir esta missão
que muito me honra: representar a Bancada do Partido dos Trabalhadores, porque
a responsabilidade e a emoção para mim é muito grande. Também, mas não só
porque sou descendente de italianos. A única diferença é que o poeta estava
triste quando começava a sua jornada da Divina Comédia, e eu estou alegre.
Dante
- e eu fiz esta referência - é um poeta importante na literatura mundial,
universal, principalmente na literatura ocidental porque ele rompeu com aquela
tradição que havia da elite, da aristocracia intelectual da sua época de
escrever só em latim, de forma que só os letrados entendiam. Dante escreveu a
Divina Comédia em língua coloquial, em língua que o povo de sua época poderia
entender e com isso a sua obra só se engrandeceu e continuará sempre sendo
imortal; mas falar da Itália é muito difícil porque falar da Itália é falar da
vida, em todas as suas manifestações alegres, esplêndidas, magníficas e também
na dialética que compõe a vida e que ela contém; falar também das coisas
tristes, e por que não?
Como
começar a falar da Itália? Falando da fundação de Roma, que a tradição coloca
no ano 753 a.C., que as escavações arqueológicas comprovam aproximadamente esta
data; ali nas colinas, que ainda hoje existem. A primeira pequena aldeia
fundada numa dessas colinas; passando por toda a longa tradição e a longa
história de Roma e do Império que Roma criou, da missão civilizatória que ela
teve e que ainda hoje, a nossa cultura, inclusive a língua que estou usando e
que estamos usando para nos comunicar nesta Sessão, é herdeira daquela
civilização. Falar dos grandes homens políticos, dos grandes escritores, dos
grandes dramaturgos, como Virgílio, como Ovídio, o Imperador Filósofo Marco
Aurélio. É falar da brilhante Idade Média italiana e do seu Renascimento; é
falar do Petrarca, é falar de Dante; é falar dos grandes pintores e de outros;
é falar de Leonardo da Vinci; de Michelangelo Buonarotti; de Michelangelo
Caravággio; do grande arquiteto, escultor e pintor Bruneleschi, que, ao
idealizar e construir a Cúpula da Catedral Maior de Florença, Santa Maria dell
Fiori, a concebeu de forma octogonal, de maneira que ao visualizar aquela
Cúpula oitavada, nós tivéssemos a impressão de uma pétala de flor aberta ou a
abrir, simbolizando assim o nome de Santa Maria das Flores.
É
uma história, uma tradição e um povo, principalmente, que embasou uma cultura
popular e erudita e que continua florescendo, continua nos inspirando e
continua nos dando lições.
É
falar da grande Batalha da Unificação e da construção da pátria italiana tão
bem simbolizada pelo canto dos hebreus na ópera de Giuseppe Verdi, que cantava
na época o exílio numa analogia do povo hebreu ao sair da escravidão do Egito,
o sofrimento do povo italiano que vivia sob o tacão do imperialismo
austro-húngaro. E conseguiu, finalmente se unificar e construir um país com
percalços, com dificuldades; um país que hoje é a 6ª economia mundial; um país
que tem um enorme parque industrial concentrado principalmente no norte do seu
território; um país de agricultura moderna e intensiva; um país que gera e
utiliza alta tecnologia; um país que pela sua exigüidade territorial importa
matérias-primas e exporta produtos manufaturados e industrializados, que
exporta calçados, artigos motomecânicos, ferro, aço, laminados, máquinas e
equipamentos não-elétricos, móveis, máquinas para escritórios. Um país aonde
predomina a energia hidroelétrica, mas não as grandes hidroelétricas, até
porque, o país não tem grandes cursos d’água, mas as pequenas e médias
hidroelétricas como nós poderíamos fazer no Brasil ao invés de construir as
Tucuruis e as Balbinas, destruindo a mata Amazônica. Pequenas hidroelétricas
que sustentam a 6ª economia mundial e a grande tecnologia e indústria de ponta,
que ela tem; país que inclusive optou por um plebiscito nacional encabeçado
pelo movimento ecológico italiano que é muito forte e que resolveu, o povo
italiano, através de um plebiscito, democraticamente, optou pela não utilização
da energia nuclear, apesar do país ser pequeno, apesar do país ter poucos
cursos d’água, apesar de ter problemas de geração e obtenção de energia. Assim
o país também procura as energias alternativas do carvão e tecnologias mais
sofisticadas e menos poluentes. O país que experimenta a energia eólica,
principalmente no sul do seu território. O país investe em energia solar. Acho
que é uma lição e mais um exemplo que o nosso País deve tirar da sábia Itália,
um país onde a qualidade de vida em média é muito boa, de qualquer forma muito
maior que a nossa; um país onde a renda per capta oficial é atualmente
16 mil dólares. E se nós considerarmos a economia informal, que é muito forte
na Itália; um país que tem sim, como dizia o poeta, aspectos penumbrosos, tem
pobreza, mas que estão diminuindo rapidamente, - especialmente no Sul. Um país
que enfrenta, corajosamente, esses problemas, problemas de ordem social, de
ordem econômica, de ordem política, inclusive de natureza partidária, mas
enfrenta com a democracia. Foi através do fortalecimento e da manutenção da
ordem democrática, que a República Italiana, depois da II Guerra conseguiu se
firmar. Conseguiu se lançar no plano das nações mais poderosas. Mais poderosas,
mais desenvolvidas, não em termos de armamentos, não em termos militaristas,
porque a Itália, fora os mísseis nucleares que lá estão, colocados por outra
potência, tem um armamento, principalmente defensivo. Mas, entre os países mais
desenvolvidos, de economia mais eficiente, e de povo mais feliz, se encontra a
Itália.
Mas,
tudo isso foi conseguido, através da reafirmação e da crença inabalável na
ordem democrática. Eu creio que no momento em que nós brasileiros, vamos fazer
pela primeira vez, em mais de 30 anos porque a maioria de nós brasileiros ainda
não votou para Presidente da República, infelizmente. E no momento em que
pescadores de águas turvas, ainda assinalam, com ameaça de um retrocesso, eu
acho que a atitude dos italianos, do povo italiano em especial, da Nação
italiana como um todo, é um exemplo para todos nós.
Um
país que consegue viver com o crescimento e com o movimento sindical
extremamente forte, organizado, reivindicador, talvez um dos mais organizados
do planeta. Um país que convive com vários partidos políticos, Democracia
Cristã, Socialista, Partido Comunista Italiano que, inclusive, governa várias
grandes cidades da Itália, como Bologna, cujo Prefeito eu tive o prazer de
conhecer aqui no Brasil, - Partido Republicano; Liberal; Social Democrático;
Partido Verde, dezenas de grandes Sindicatos e, de outro lado, de grandes
empresas, inclusive multinacionais, como a Olivetti, a Fiat, que conseguem, com
interesses contraditórios, conviver e conseguem construir uma grande Nação. E,
aí, claro, um outro exemplo importante, um país que, no século passado, ainda
no início deste século, exportava pessoas e que hoje recebe fluxo imigratório
do mundo todo, especialmente dos países mais pobres da Europa e do Norte da
África. Um país que trouxe uma contribuição muito importante para a nossa
cultura, para nós todos, agora, aqui, e sempre lhe homenageamos, para nós todos
descendentes de italianos que com muita honra dizemos e afirmamos isso. Os
italianos vieram ricos, é verdade, mas a maioria era pobre. Inclusive Verdi
dizia, logo depois da Reunificação, da Fundação da República, ou melhor, da
Pátria, da Nação Italiana, para que tudo isso? Se os pobres vão embora, vendo
os navios carregados de imigrantes saindo de Nápoles, Gênova. Mas Verdi não
podia prever que isso eram sementes que iriam frutificar abundantemente em
outras terras, inclusive na terra brasileira, trazendo para nós uma cultura,
trazendo para nós uma contribuição tecnológica haja vista o papel da
industrialização no Brasil dos descendentes e imigrantes italianos, uma
contribuição em termos sociais, em termos de convivência humana, o movimento
cooperativista brasileiro nasceu no sul do País, especialmente no Rio Grande do
Sul, como contribuição, principalmente, dos imigrantes italianos. O próprio
movimento sindical brasileiro, organização dos trabalhadores brasileiros ganhou
grande impulso através daqueles italianos que advogavam, comungavam da
ideologia anarquista, anárquico sindicalista, ou socialista e que aqui no
Brasil provocaram um impulso na organização sindical e partidária em solo brasileiro.
Tudo isto são contribuições inestimáveis que nós, e eu aqui em nome da Bancada
do Partido dos Trabalhadores, reafirmo, devemos à terra italiana, aos quais nós
queremos e estamos fazendo jus, lutando, também, por nossa parte, por um País
que não será certamente o que a Itália é hoje, já que nós temos uma outra
realidade social, política, econômica e cultural, mas que nós se conseguirmos
dentro de 10 ou 20 anos, ou se Deus quiser antes, se nós conseguirmos chegar
próximo de alguns índices de renda, principalmente, de desenvolvimento, nós
seremos certamente um pouco mais felizes, não sem problemas, como a Itália não
é um país sem problemas, mas um país que consegue, como a Itália, superar as
suas contradições e avançar, tendo uma perspectiva de futuro mais alvissareira.
“Neste
ponto faltou alento à minha inspiração. Mas já, então, Deus dominava a minha
vontade, fazendo-a conforme ao seu amor, qual roda obediente ao mando do motor
- amor que move o sol e as demais estrelas.”
Finalizo
como Dante finaliza a sua Divina Comédia, agradeço a atenção de todos e digo:
Viva a Itália! Sou grato. (Palmas.)
(Revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra, a seguir, ao Ver.
Cyro Martini que falará em nome da Bancada do PDT.
O SR. CYRO MARTINI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Senhoras
e Senhores, reunimo-nos, nesta oportunidade, com o justo propósito de rememorar
e homenagear a República Italiana.
Com
um território ligeiramente superior ao do Estado do Rio Grande do Sul, sob um
clima geralmente ameno, a península itálica abriga uma população de 57 milhões
de habitantes.
Embora
a Itália, como Estado unitário, tenha uma história recente, ela é, há mais de
3.000 anos, sede de grandes civilizações que marcaram profundamente a evolução
da cultura ocidental. Berço dos Etruscos e da Magna Grécia. Centro do Império
Romano que por muitos séculos dominou o mundo ocidental.
Com
a queda do Império Romano (476 d.C.), a cultura e a civilização romanas, mesmo
assim, não sucumbiram. A Itália manteve durante toda a Idade Média uma posição
privilegiada como sede do Papado e centro da cristandade.
No
fim do século XI, verificou-se na Europa uma renovação econômica, cultural e
social que determinou na Itália a civilização das “comunas”. Muitas cidades
italianas se organizaram democraticamente e se tornaram autônomas em relação ao
Império. A civilização das comunas foi notavelmente fecunda, seja no plano
econômico e social, seja no plano cultural. A cidade de Florença, por exemplo,
no século XIV deu à literatura Dante, Boccaccio, Petrarca.
Durante
os séculos XIV e XV, a Itália destacou-se mais uma vez no plano cultural, dando
origem à Renascença, que abrangeu todos os aspectos da vida: a política, a
literatura, a arte, a ciência, os costumes. Rafael, Michelangelo, Galileu, Machiavel,
Ariosto, Leonardo, são alguns nomes representativos da época.
Politicamente,
a Itália ficou sujeita aos acontecimentos decorrentes das lutas pela supremacia
das potências européias e foi freqüentemente invadida por exércitos
estrangeiros.
Essa situação prolongou-se até a Revolução Francesa. As idéias de liberdade e de igualdade foram difundidas pela Itália, acabando por modificar suas estruturas políticas. Começou, então, o “Risorgimento italiano”, movimento que visou à criação de uma Itália unida e livre da dominação estrangeira.
O
Processo de unificação efetuou-se em um período de 50 anos, conduzido, por um
lado, pelas forças políticas e militares do Rei da Sardenha e, por outro, pelas
sociedades secretas, como a “Carboneria” e a “Giovane Itália”, que difundiam a
idéia de liberdade e promoviam insurreições, visando à realização da
unificação.
Os
protagonistas da política italiana nesse período foram Giuseppe Mazzini e
Giuseppe Garibaldi, animados por ideais republicanos e os Savóia - reis da Sardenha,
que se tornaram reis da Itália, que tiveram no Ministro Cavour um dos maiores
artífices da unificação italiana.
O
primeiro ponto de encontro significativo entre a Itália e o Rio Grande do Sul
está em Giuseppe Garibaldi, ou seja, José Garibaldi.
Garibaldi
(1807-1882), o Herói de Dois Mundos, já integrado a Marinha da Sardenha, aderiu
em 1833 ao movimento Jovem Itália, “Giovane Itália”. Envolveu-se em uma
conspiração que, descoberta, obrigou-o em 1834 a vir para o Brasil. Em 1836
recebeu um comando do General Farroupilha Bento Gonçalves, tomando assim parte
da Guerra dos Farrapos. Em 1839, com a catarinense Ana Ribeiro da Silva -
Anita, foi para o Uruguai, onde também acabou participando de disputas bélicas.
Em 1848, voltou para a Itália, contando com a companhia de Anita. Retomou a sua
luta, tendo que novamente exilar-se, agora nos Estados Unidos. Retornou para a
sua Itália, em 1854.
Quando
em 1859, estourou a guerra com a Áustria, assumiu o comando da Brigada dos
Caçadores dos Alpes, derrotando o inimigo em uma série de batalhas. Em 1860,
com Crispi e Bertani, organizou a expedição dos “mil camisas vermelhas”, para
conquistar o Reino de Nápoles. Desembarcou na Sicília, a 11 de maio. Em julho
já se adonara da ilha. Partindo para o continente, entrou em Nápoles a 7 de
setembro e no mês seguinte destruiu o resto das tropas dos Bourbons em
Volturno. A 7 de novembro acompanhou Vitor Manuel a Nápoles. Estava efetivada a
unificação italiana. Garibaldi, porém, continuou sua luta: no campo bélico, em
tempos de guerra; no campo político, em tempos de paz.
O
Rio Grande do Sul devota grande apreço por Garibaldi, tanto que tomou o seu
sobrenome e o pôs em um de seus principais Municípios.
Garibaldi
veio a falecer justamente em um dia 2 de junho, do ano de 1882, em Caprera.
Após
rebeliões e guerras, Vittorino Emanuele II de Savóia conseguiu reunir os vários
pequenos Estados italianos, fundando em 1861 o Reino da Itália, do qual, em
1870, Roma foi proclamada capital.
Finalmente,
com a Primeira Guerra Mundial, o território nacional, anexando as regiões do
Trentino e do Friuli e a cidade de Trieste, completou-se e acabou fixando-se,
após acordos internacionais sucessivos à Segunda Guerra Mundial nas atuais
fronteiras.
O
sistema político da nação italiana foi modificado em 1946, após um referendum,
sendo então proclamada a república democrática e adotou a sua atual
Constituição Nacional. Tal transformação ocorreu exatamente em 2 de junho de
1946.
O
Rio Grande do Sul, nós, rio-grandenses, muito devemos à colonização italiana. A
pecuária, a agricultura, a culinária, a indústria, o comércio, o jornalismo, a
cultura, a educação e outras atividades sul-rio-grandenses devem sobremaneira
aos imigrantes italianos e a seus descendentes.
A
colonização do solo gaúcho por italianos teve início ainda durante o período do
governo imperial, no Brasil. Em 1875, as melhores terras do Rio Grande já
estavam ocupadas. Os italianos não esmoreceram e foram estabelecer-se na borda
meridional do planalto: uma região montanhosa coberta por uma densa floresta
virgem e isolada. A partir daí, os italianos começaram a movimentar-se pelo
Estado, embora o núcleo principal permaneça lá naquela região. Região que todos
nós sabemos se no passado foi inóspita, hoje consagra e caracteriza uma gente e
um povo e que permite a todos nós, quando lá comparecemos, vislumbrar as mais
belas paisagens que o Rio Grande do Sul possui.
Na
Campanha Gaúcha, o descendente italiano aculturou-se de tal modo que muitos não
se dão conta das suas origens italianas, conquanto aqui ou acolá possa haver um
grupo que guarde suas características originais.
Porto
Alegre, como de resto em todo o Rio Grande, os italianos iniciaram pelas
atividades agro-pastoris. Uns localizaram-se na zona norte da Capital, como
aqueles dos quais, pela linha materna, descende este modesto Vereador: Petuco,
Martini. Outros localizaram-se na zona sul, entre Teresópolis e Vila Nova.
O
Rio Grande do Sul e Porto Alegre muito devem aos italianos e aos seus
descendentes. De tal dívida, muito se orgulham.
Nesta
Casa Legislativa, há vereadores, nas veias dos quais corre, se não totalmente,
pelo menos parcialmente, sangue oriundo da Península Itálica.
Registro
com esta alocução a saudação e a homenagem do Partido Democrático Trabalhista -
PDT - à Itália e ao seu povo, na data consagrada à proclamação de sua
república. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Omar Ferri.
O SR. OMAR FERRI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, minhas
Senhoras e meus Senhores, acho que como descendente de segunda geração de
italianos, principalmente por parte de minha mãe, deveria contar duas
pequeninas histórias nesta eloqüente e grandiosa data, em que se comemora o
aniversário da intrépida e renovada Itália de nossos dias. Criei-me numa vilazinha
onde todas as pessoas eram italianas, bem próxima da vila do Ferronato onde, se
repetia a mesma circunstância.
Em
Ilópolis, hoje cidade, havia umas noventa casas e, praticamente, a língua
oficial até a 2ª Grande Guerra era italiana. Depois, com a guerra houve muita
atuação do poder discricionário e autoritário e lembro-me que os nossos avós
ficaram impedidos de falar na única língua que tinham capacidade de se
expressar. Mas foram coisas que aconteceram e hoje os nossos povos superaram
essas pequenas divergências e assim que de Ilópolis fui estudar em Encantado,
em Lajeado, em Guaporé, e em Porto Alegre, onde me formei. Algum tempo após, em
1960, fui convidado por um juiz para fazer um júri meio tenebroso em Guaporé,
porque nenhum advogado daquela cidade aceitava em ser advogado de defesa, eis
que o crime era realmente hediondo. Aceitei a incumbência e viajei para
Guaporé, onde eu tinha um amigo que era o hoteleiro da cidade, e que se chamava
Leonida Carpi e que, portanto, era um italiano e ele disse-me quando cheguei:
tu veio fazer o júri, és meu hóspede oficial e eu não te cobrarei a estada aqui
no meu hotel e eu fiquei muito sensibilizado pela visão e pelo descortínio
desse cidadão que tinha consigo a cultura de dois mundos e a arte também porque
era um emérito tocador de violino e o velho Carpi, hoje falecido, não é nada
mais nada menos do que o pai da atual Presidente da Subseção da Ordem dos
Advogados do Rio Grande do Sul, Drª Cléa Ana Maria Carpi da Rocha.
Então,
eu quis retribuir esta homenagem porque era muito comum no interior se convidar
pessoas gratas para fazer parte da tribuna da Defesa, por essa razão convidei o
Sr. Carpi para sentar ao meu lado. De repente os debates se acaloraram e o
promotor público entendeu de diminuir o nosso trabalho de defesa e, até, acenou
dizendo que do meu lado estava um estrangeiro e isto nos desmerecia, então eu
vi quando este cidadão se transfigurou e começou a chorar em grandes soluços e
dizer: ninguém é mais brasileiro do que eu porque aqui cheguei, estabeleci-me,
sou comerciante, casei e as minhas filhas são brasileiras, eu amo esse País
mais que o senhor. O juiz foi obrigado a interromper o júri por algum tempo.
Vejam a profundeza e o significado deste acontecimento. De repente um italiano
atravessa os mares, chega aqui e vem trabalhar, vem ajudar o progresso deste
País e se transforma em mais brasileiro do que nós próprios. E nós temos,
portanto, este cunho, este traço, esta ideologia de termos chegado no Brasil
para ajudar este País a progredir, com mais sentimento de brasilidade do que os
outros que há muitos anos - sem desmerecer os que estavam aqui - mas não
imprimiam aquele sentido de progresso que a Pátria necessitava.
Esta
é uma história, mas igual ou talvez maior mérito eu poderia dizer em relação aqueles
que lá ficaram, sendo essa outra estória. Para ver que já faz parte do
congraçamento dentro de uma atmosfera espiritual que nunca desuniu os povos
italiano e brasileiro.
Eu
fui para a Itália pela primeira vez em 1982, já tinha ido para a Europa, mas não
conhecia a Itália e fui a convite de um cidadão que se chama Antônio
Crivellaro, Diretor da Faculdade Palestrina, que já condecorou o Vereador Dib e
a mim numa determinada ocasião, cujo pai se chamava Angelo Crivellaro, era um
maestro que fundou a Palestrina e que hoje, inclusive, é nome de rua. O
professor Crivellaro, há alguns anos, foi convidado pela rádio e televisão
francesa para participar de um júri, num seminário internacional de violão e
lá, da França, ele resolveu visitar os parentes, porque ainda, o pai e a mãe
tinham irmãos na Itália, vivos.
Num
determinado dia, tomando um chope, num restaurante, eu disse: Crivellaro, me
conta como foi a história do encontro com os teus parentes, em Tômbolo, que é
uma cidadezinha que fica a 40 km de Pádova e a 25 km de Vicenza, perto do
Cittadela, na Região Veneta. E enquanto o Crivellaro no bar me contava a
história fiquei tão emocionado que quase chorei, pois uma lágrima se atreveu e
correu pelas minhas faces de tão emocionante que foi. O Crivellaro disse: “saí
de Paris, fui até Milão e embarquei naquele trem de Milão a Veneza, desci em
Santo Antônio de Pádua. Peguei um táxi e pedi para me levar até Tombolo.”
Tombolo é uma cidadezinha de 5 ou 6 mil habitantes, um picolo pase. Lá chegando se dirigiu a um dos bares do centro da
cidade. O bar se chama Bacu. Não sabendo se encontraria os parentes e como
seria recebido disse para o chofer: “espera aqui que possivelmente a tarde
haveremos de retornar para Santo Antônio de Pádua.” O Crivellaro chegou, entrou
no bar e pediu para o proprietário se ele conhecia a dona Isolina. O dono
disse: “sim, mora aí, conheço.” “Pois gostaria de falar com ela.” Enfim, o dono
do bar o levou à casa da Isolina que era prima-irmã do Crivellaro e ele disse
para a Isolina: “Isolina, sou Crivellaro filho do maestro Angelo” - e disse o
nome da mãe dele que agora não me ocorre. Mas, aí, foi uma explosão de amor e
de sentimento, e de repente sem parar dona Isolina convocou toda a parentada e
o Crivellaro se encontrou com todos eles e fizeram festa, e não paravam de
fazer festa que lembravam as do filho pródigo que voltava à casa, ao lar e
foram 8 dias de festa. O Crivellaro retornou ao Brasil, mas de vez em quando,
cada dois ou três anos nos leva para lá, uma vez a mim, outra vez o Romildo Bolzan,
que é o Presidente do Tribunal de Contas, e, cada vez que nós chegamos em
Tombolo somos festejados com solenidades, almoços e jantas nas casas deles pelo
tempo todo, daí porque “scherzando” eu digo que somos condenados à morte de
tanto comer e beber e quando parto digo: “ainda não foi desta vez que
morremos.”
Então
vejam bem esse congraçamento que sucessivamente acontece, Sr. Rotondaro. A alma
brasileira e a alma italiana parece que se uniram no momento em que Garibaldi
veio aqui e lutou pela nossa independência, pela República do Estado do Sul
Brasileiro, lutou pela independência sul-rio-grandense, para depois voltar e
lutar pela Unificação Italiana. Esses fatos comprovam a permanência duradoura
da irmandade brasileira italiana.
Nós
nos consideramos aqui, evidentemente, e com muita honra, descendentes de
italianos, mas assumidos a nossa brasilidade, o nosso sentimento de
nacionalidade. E sabemos que os italianos que chegam aqui todos eles, vem aqui
para contribuir para com o engrandecimento da nossa Pátria e do nosso Estado.
Parabéns
a V. Exª que representa a Nova República da Itália. Parabéns ao Vereador
Vicente Dutra, que em boa hora solicitou que a Câmara e que a comunidade de
Porto Alegre se tributasse essa merecida homenagem, parabéns Sr. Presidente,
parabéns Srs. Vereadores e toda a comunidade porto-alegrense que aqui está
presente.
Eu
repito aquilo que disse um Vereador há pouco, só há uma palavra, só há uma
manifestação, só há uma expressão. Viva a Itália e Viva o Brasil! Muito
obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Vicente Dutra que
falará pelas Bancadas do PDS, PTB, PL e PCB.
O SR. VICENTE DUTRA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, demais
autoridades presentes, a homenagem que a Casa do Povo de Porto Alegre, presta
neste 02 de junho, quando se comemora a data nacional da Itália, tem o
significado de reconhecer a extraordinária contribuição da nação italiana ao
Brasil e, em especial, a nossa Porto Alegre.
É
assim com grande alegria e ao mesmo tempo com profundo respeito, que esta
Câmara recebe hoje as principais lideranças e expressões culturais dos
italianos de nossa comunidade para que, irmanados aos representantes do povo,
recebam esta singela mas justa homenagem, por tudo que representam na alma da
Cidade.
Permitam-me
senhores, discorrer ainda que em rápidas abordagens o significado da data que
hoje comemoramos. A grande história da Itália se confunde, por certo, com a
história da humanidade e é rica de episódios importantes, principalmente nos
últimos 25 séculos. Reunificada na segunda metade do século passado, tem a
Itália, justas razões para instituir o 2 de junho como sua data nacional.
É
o momento em que a Itália entra na era da sua plenitude, instituindo a
República Italiana, através de plebiscito realizado exatamente neste dia 2 de
junho em 1946. Instalada a República em moldes democráticos, tendo como
estrutura básica o modelo Parlamentarista, começa a escalada econômico-social
da Itália, que hoje a faz uma das maiores economias do mundo, proporcionando
aos italianos um invejável nível de vida. Esta data significa, sobretudo, a
supremacia do regime democrático parlamentarista.
O
equilíbrio dos partidos no poder, partidos que se formaram das mais antagônicas
tendências ideológicas, faz do Estado italiano um excelente modelo de vivência
democrática. As várias categorias que compõe a estrutura social italiana
alcançam, através de seus representantes, a participação na vida política, e
desta forma tem atingido os ideais almejados por estes distintos grupos
sociais.
Num
todo, e em particular, o cidadão italiano, tem sua representação política no
Parlamento. E foi esta vivência democrática iniciada a 2 de junho de 1946 que
permitiu e deu condições ao positivo desenvolvimento econômico que hoje desfruta
a Itália. A partir de 2 de junho de 1946 inicia-se uma busca permanente de um
modelo político adequado à realidade italiana. O modelo político está em
constante renovação acompanhando, assim, as transformações sociais e culturais
da sociedade.
A
democracia italiana constitui um modelo peculiar - não são verificadas as
ortodoxias - os modelos teóricos não foram transplantados. Em suma, a Itália
encontra cotidianamente a resposta política a sua transformação social. E esta
reposta política enseja o desenvolvimento econômico pungente e o bem estar
social.
A
percepção da Itália no presente é motivo de orgulho e satisfação aos milhares
de descendentes dos imigrantes italianos que se espalham por todos os países do
mundo, ajudando na construção dos mesmos. É o caso do Brasil, que teve o
privilégio de contar com a operosidade da presença do italiano e englobar na
cultura brasileira inúmeros traços culturais peninsulares.
No
Rio Grande do Sul, mais de que em São Paulo, o colono imigrante italiano
provocou o desenvolvimento em amplas áreas na encosta superior do Nordeste,
constituindo vastos contingentes da classe intermediária que tende a favorecer
o equilíbrio social. A pequena propriedade, amplamente produtiva, caracterizou
e tornou o Estado do Rio Grande do Sul, diferente de outros Estados
brasileiros. O modo de falar, a perpetuação dos hábitos alimentares, o tipo de
família nuclear, a manutenção de uma determinada estrutura de parentes que era
predominante na Itália, tornaram rica a zona colonial rio-grandense, sob o
ponto de vista cultural. As cidades também se beneficiaram do legado cultural e
do trabalho do italiano. Porto Alegre é um exemplo, contando já desde o fim do
século passado com cerca de 10% de população italiana, predominantemente de
origem meridional e por isto mesmo portadora de hábitos e costumes que
enriquecem como indivíduos e como grupos a tescitura social da nossa Cidade.
Contribuição
valiosa esta Cidade vem recebendo de numerosos descendentes como professores,
políticos, artistas, engenheiros, advogados, industriais, comerciantes,
eclesiásticos e intelectuais, enfim de todos os segmentos da sociedade, cujas
presenças é por demais evidente na vida porto-alegrense. É aqui em Porto Alegre
que está sediado o Consulado Geral da Itália, a Câmara da Indústria e do
Comércio italiana, o Conselho de Emigração Italiana (COEMIT), o Centro Ítalo
Brasileiro, o Instituto Cultural Italiano, o Instituto de Assistência Social
aos Italianos no Rio Grande do Sul e, recentemente criados o Circolo Calabrese
do Rio Grande do Sul e a Associação Calabresa do Rio Grande do Sul.
Destaque-se, por igual, o Centro de Estudos da Pastoral Migratória e o Centro
Ítalo-Brasileiro Assistência e Instruções de Migrações (CIBAI), ambos mantidos
pela congregação dos Padres Carlistas e o Centro de Estudos Migratórios Cristo
Rei, mantido pelas Irmãs Carlistas e pela Ordem dos Capuchinhos de Sabóia, com
atendimentos e publicações através das Edições EST.
Este
Plenário sente-se sumamente honrado com a presença de tantas expressões da
cultura italiana; como do ilustre mestre Dante de Laytano; da professora e
historiadora Nuncia Santoro de
Constantino que tem me socorrido com sua sábia orientação, para que em
momentos como estes possamos transmitir com fidelidade episódios históricos e
traços da cultura italiana; do professor e historiador Frei Rovilio Costa,
cidadão de Porto Alegre; do professor e emérito historiador Luiz Alberto de
Boni, atual Diretor da Faculdade de Filosofia da UFRGS, dentre tantos outros.
São
estes italianos que procuro representar neste momento, através de um mandato
que nos foi conferido. Represento-os com alegria e grande orgulho, uma vez que
me associo à comunidade dos descendentes por ser eu próprio um deles.
Aliás,
esta Casa do Povo de Porto Alegre conta com um número expressivo de
descendentes de imigrantes italianos, os Srs. vereadores Artur Zanella, Omar
Ferri, Cyro Martini, Giovani Gregol, Ervino Besson, entre outros.
Nós,
os descendentes, vibramos com a arrancada da Itália do pós-guerra e gostaríamos
de buscar aspectos do exemplo político italiano para a construção do Brasil
novo. O exemplo italiano nos dá esperança, pois de uma Itália conflagrada em
meados do século passado, como decorrência do processo de unificação política,
que começou a ver-se privada dos seus filhos em busca de outros mundos para
alcançar os meios de sobrevivência. Nós que sabemos dos impactos que a
Revolução Industrial trouxe à população italiana, aumentando ou engrossando os
contingentes daqueles que eram praticamente obrigados a abandonar a terra de
origem. Nós que conhecemos tantos contemporâneos que se lançaram para o Brasil,
diante de uma Itália destruída por dois conflitos mundiais, na primeira metade
deste século. É, efetivamente, razão de comemorar e registrar nos Anais desta
Casa o júbilo em torno do dia 2 de junho, que assinala não só a Proclamação da
República Italiana, mas sobretudo, a remissão da nação italiana livre e
soberana.
Em
nossa Cidade a contribuição italiana é muito antiga. Os nossos arquivos
paroquiais revelam uma presença antecipada à imigração propriamente dita em
quase 50 anos; em 1826 é batizada em nossa Cidade a menina Rafaela Magnoni,
filha de italiano. A partir de 1835, já é bem conhecida a participação dos
liberais italianos, num movimento republicano rio-grandense, ninguém desconhece
a importância das ações políticas de um Anzani, Zambecari, de um Rossetti e do
general Garibaldi, na Revolução Farroupilha.
O
desenvolvimento verificado em Porto Alegre, em meados do século passado,
inclusive faz com que a Cidade cresça e além do Centro Administrativo da
província, se torne a esquina comercial da mesma. E neste momento são vistos os
estabelecimentos comerciais de proprietários italianos na Cidade. Cerca de 50
famílias viviam em Porto Alegre por esta época, diversificando, juntamente com
os imigrantes alemães, o povoamento da Cidade, que até então fora tipicamente
colonial. E o italiano cosmopolita, politizado, enriquece nossa Cidade, mesmo
antes da emigração oficial, que só vai iniciar em 1875. Ele traz na sua bagagem
italiana idéias liberais avançadas à época e divulgadas nos inúmeros periódicos
em língua italiana que circulavam na Cidade ou no convívio entre compatriotas
que se verificaram nas dependências da sociedade Vittorio Emanuelle II, fundado
ainda na década de 1870, cujo presidente honorário foi Garibaldi.
Portanto,
ao ingresso dos primeiros imigrantes do Rio Grande do Sul, oriundos da Itália
setentrional, a presença italiana e suas contribuições já eram notadas. Aos
italianos setentrionais que predominantemente se localizavam no interior do
Estado, juntar-se-iam os meridionais italianos, que longe dos lotes coloniais
desenvolveram nas nossas cidades e, especialmente, em Porto Alegre, atividades
tipicamente urbanas.
Porto
Alegre presencia um importante fenômeno antropológico que é a manutenção da
identidade étnica entre os imigrantes calabreses oriundos do Município de
Morano Calabro no nosso meio, desde a penúltima década do século passado. Em
grande número e perfeitamente assimilado à população porto-alegrense. Lutam,
contudo, pela preservação de valores culturais e em razão disto criam espaços
associativos como o Circolo Calabrese do Rio Grande do Sul que deverá divulgar
e estreitar laços não só com a Regione Calábria, mas sobretudo, com a
grande pátria italiana.
Para
assinalar a homenagem da Cidade a estes seus imigrantes, em grande número
meridionais, neste momento anuncio e dou entrada, nesta Casa, Sr. Presidente,
de um Projeto de Lei dando o nome a um espaço verde em Porto Alegre de Praça
Itália, é um espaço de 11.000 m² muito bem localizado, e que esta Casa irá
apreciar, terá a sanção, por certo, do Executivo Municipal, dando o nome,
resgatando inclusive uma homenagem que deveria ter sido feita há muito tempo
por esta Cidade à colônia italiana. Como este Projeto de Lei está baseado num
estudo do brilhante professor Frei Rovílio Costa, faz parte do processo e a
justificativa que acompanhará ficará em seguida nos Anais para os tempos.
Como
reconhecimento a grande contribuição italiana, apresento, por igual, a
indicação ao Congresso Nacional, Sr. Presidente, deu entrada neste momento,
sugerindo uma Emenda à Constituição no sentido de facultar o voto do imigrante
italiano não naturalizado em eleições municipais nas cidades brasileiras,
ensejando assim a valiosa participação política a nível de Municípios,
justificando esta proposição inclui um magnífico trabalho da historiadora
Nuncia Santoro de Constantino.
Concluo,
Srs. Vereadores e senhores convidados, afirmando, neste recinto com as vossas
presenças, que está repleto de representações históricas, está enriquecido com
a mais autêntica e moderna expressão da democracia e modelo desenvolvimentista.
Nossas presenças representam o espírito e a vontade do italiano, valorosos
brasileiros, guapos gaúchos e exemplares cidadãos da nossa querida Porto
Alegre. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Cônsul Geral da
Itália, Sr. Vittorino Rotondaro, que falará em nome do seu país que está sendo
homenageado, na qualidade de ser representante diplomático no Rio Grande do
Sul.
O SR. VITTORINO ROTONDARO: Sr. Presidente, autoridades componentes
da Mesa, Srs. Vereadores aqui presentes, Senhoras e Senhores. É com grande
prazer que participo desta Sessão no curso da qual a excelentíssima Câmara
Municipal quis lembrar, por sugestão do Ver. Vicente Dutra, a fausta data de 2
de junho que na história moderna da Itália representa o início de uma nova era.
Os Srs. Vereadores que falaram antes de mim, falaram da Itália do passado, e eu
quero falar da Itália do presente. Hoje, o povo italiano celebra o 43º
aniversário da República e num clima político de real democracia que lhe
permitiu a conquista de grandes objetivos no seu desenvolvimento
sócio-econômico e cultural. A Itália de hoje não é somente um país rico de
belezas naturais, de grandes tradições humanísticas, culturais e artísticas,
mas é também um país tecnologicamente evoluído, cuja política externa está
constantemente dirigida ao estreitamente da amizade com todos os países. Neste
quadro encontram justo lugar as ótimas relações com o grande Brasil, onde a
presença italiana constitui desde o século passado um elemento de grande
importância na vida sócio-econômica do País, uma presença que se solidificou
através de um estreito relacionamento humano e cultural, reduzindo-se numa
segura e profunda influência na formação e no desenvolvimento do Brasil atual.
O Governo italiano tendo presente estes fortes vínculos e a nova realidade da
Itália está promovendo relações mais intensas e profícuas entre os dois países.
Para tal fim organizou a grande manifestação atualmente em curso no Brasil e
conhecida como “Itália Viva”. Esta “Itália Viva” cuja programação se estenderá
por três meses, quer ser o testemunho do caminho percorrido pela Itália nas
últimas décadas, quer mostrar o grande caminho do progresso tecnológico ao
mesmo tempo que promove a renovação da cultura e da arte. Essa manifestação faz
parte de uma série de outras iniciativas político-econômicas que terão a sua
realização num acordo de cooperação econômica, técnica e financeira, através do
qual se pretende dar um novo impulso a ambas as partes. Nesse vasto programa
não poderíamos deixar de incluir o Rio Grande do Sul, em homenagem à
consistente comunidade italiana presente nesta Estado. De fato, há duas semanas
o povo porto-alegrense teve oportunidade de hospedar a companhia de dança do
Teatro Novo de Turim, que ofereceu dois excelentes espetáculos. Depois de
amanhã, os desportistas poderão ver a seleção juvenil italiana de futebol num
encontro amistoso com análoga seleção rio-grandense. Quanto à parte econômica,
tenho o grande prazer de lembrar que duas delegações econômicas chegaram a
Porto Alegre durante a última semana para estudar formas de cooperação com
pequenas e médias indústrias gaúchas. Tal cooperação encontra lugar no acordo
mencionado e que será assinado proximamente em Roma. Exmos Srs.
Vereadores, “Itália Viva” deverá revelar aos brasileiros a nova Itália, deverá
servir para uma reavaliação da presença italiana neste País e para remover
determinados resíduos cristalizados que se referiam a uma diversa imagem
italiana, do passado. Essa quer apresentar a Itália que, com dinamismo e
determinação se mostra ao mundo com a originalidade das suas iniciativas e das suas
inovações, da sua linguagem artística, da sua personalidade lançada no campo
empresarial, econômico e cultural. Ela quer ser, antes de mais nada, um convite
da Itália ao Brasil com o objetivo de aprofundar e ampliar a mútua colaboração
promovendo um intercâmbio inteligente e objetivo que favoreça, em bases
reciprocamente vantajosas, um amplo, profundo e duradouro laço entre os nossos
dois países irmãos.
Sr.
Presidente, Srs. Vereadores, recordando a data da fundação da República
Italiana essa excelentíssima Câmara Municipal quis fazer uma homenagem ao meu
país, quis confirmar aqueles fortes vínculos de amizade e de sangue que existem
entre o Brasil e a Itália e que representam uma garantia para o reforço dos
mesmos. Portanto, com sentimentos de gratidão que dirijo à excelentíssima
Câmara, aos Srs. Vereadores que falaram e, em particular, ao Ver. Luiz Vicente
Dutra, não somente por ser inspirador da iniciativa, mas também pelas palavras
que ele dirigiu à Itália, os mais sinceros agradecimentos por essa manifestação
expressando, ao mesmo tempo, os mais sinceros votos de felicidades para todos
vocês e sempre maior prosperidade para todo o povo brasileiro, para a cidade de
Porto Alegre, para o Rio Grande do Sul e para o grande Brasil amigo. Muito
obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Prezados irmãos italianos, depois dos
belos discursos dos companheiros Vereadores representando as nossas Bancadas,
representando a Casa, os 33 Vereadores, a cidade de Porto Alegre, vivemos um
momento muito significativo nesta manhã para confraternizar e agradecer a
grande comunidade da Itália que está em Porto Alegre junto conosco, cujo sangue
mesclou-se ao nosso. Então, Cônsul Vittorino, o nosso abraço, e também àqueles
italianos que não puderam estar conosco nesta manhã maravilhosa, o nosso abraço
e o nosso carinho.
Agradecemos
a presença de todos os senhores e senhoras presentes e encerramos os trabalhos
desta Sessão Solene.
(Levanta-se
a Sessão às 12h28min.)
* * * * *