ATA DA DÉCIMA OITAVA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 02.06.1989.

 


Aos dois dias do mês de junho do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Oitava Sessão Solene da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada a homenagear a República da Itália. Às dez horas e quarenta e seis minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Sr. Vittorino Rotondaro, Cônsul Geral da Itália no Rio Grande do Sul; Dr. Luiz Gehlen, representando o Governo do Estado do Rio Grande do Sul; Sr. José Carlos Mello D’Ávila, representando o Prefeito Municipal; Srª Clésia Lima, representando o Deputado Federal Victor Faccioni; Sr. Antonio Alberti, Presidente do Comitê da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul; Sr. Cármine Motta, Presidente do Circolo Calabrese do Rio Grande do Sul; Ver. Lauro Hagemann, 1º Secretário da Casa. A seguir, o Sr. Presidente convidou os presentes a, de pé, ouvirem a execução dos Hinos Nacionais do Brasil e da República Italiana, e concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Artur Zanella, em nome da Bancada do PFL, comentou a representatividade do povo italiano em nosso País e, em especial, em nosso Estado. Analisou as contribuições culturais, políticas e sociais resultantes da vinda de imigrantes italianos ao Brasil. Lembrou a vinda de seu avô, funcionário do governo italiano, ao País. Ressaltou ser autor de Projeto de Lei visando à criação da semana ibero-italiana. O Ver. Airto Ferronato, em nome da Bancada do PMDB, falou de seu orgulho por participar da presente homenagem, que classificou como o reconhecimento singelo desta Cidade a grande colaboração do povo italiano ao progresso rio-grandense e brasileiro. Discorreu sobre o desenvolvimento hoje observado na Itália. O Ver. Giovani Gregol, em nome da Bancada do PT, citou texto inicial do livro “A Divina Comédia” de Dante Alighieri, analisando a importância da arte italiana dentro da cultura universal. Ressaltou o grande número de nomes mundialmente famosos que integram o povo italiano e a força desse povo na luta por sua unificação e seu desenvolvimento até atingir, atualmente, o sexto lugar dentro da economia mundial. Atentou para a conscientização ecológica, política e social, existente na Itália, e para a contribuição dada pelos imigrantes daquele país aos demais países do mundo. O Ver. Cyro Martini, em nome da Bancada do PDT, destacou ser o solo italiano, há mais de três mil anos, sede de grandes civilizações, as quais originaram as bases da atual República Democrática da Itália. Discorreu acerca da força universal da cultura italiana, historiando sobre a influência das modificações históricas mundiais dentro dessa cultura. Lembrou as figuras de Giuseppe e Anita Garibaldi como nomes integradores da Itália e do Brasil. Relatou o processo de unificação e criação da República Democrática Italiana. O Ver. Omar Ferri, em nome da Bancada do PSB, dizendo ter sido criado em uma vila cuja população era praticamente toda italiana, comentou a fusão de culturas ocorrida com a vinda de imigrantes ao País e a participação dos mesmos em nosso desenvolvimento. Relatou experiências pessoais de convívio com italianos, nas quais ficou destacado o sentimento de amor pelo Brasil, assumido pelo povo italiano. E o Ver. Vicente Dutra, em nome das Bancadas do PDS, PTB, PL e PCB, analisou o significado da homenagem hoje prestada à República Italiana, dizendo ser ela o reconhecimento da Cidade à valorosa contribuição italiana a nossa comunidade. Salientou a importância da comemoração do dia dois de junho, dia da criação da República Democrática da Itália. Explanou sobre a situação social, política e econômica atualmente apresentada por esse país. Anunciou o encaminhamento, à Casa, de Projeto de Lei, dando o nome de “Praça Itália” a um espaço verde da Cidade, e de Indicação, no sentido de facilitar a voz política do imigrante não naturalizado. Após, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Cônsul Geral da Itália, Sr. Vittorino Rotondaro que, como representante diplomático da Itália no Estado, agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Em prosseguimento, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade, convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às doze horas e vinte e oito minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima segunda-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Valdir Fraga e secretariados pelo Ver. Lauro Hagemann. Do que eu, Lauro Hagemann, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.

 

 


O SR. PRESIDENTE: Informamos que os Vereadores que farão uso da palavra, representando as suas Bancadas, serão os Vereadores Artur Zanella, Airto Ferronato, Giovani Gregol, Cyro Martini e Vicente Dutra.

Convido os presentes para, de pé, ouvirem a execução dos Hinos Nacionais do Brasil e da República Italiana.

 

(São executados os Hinos.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Artur Zanella que falará em nome da Bancada do PFL.

 

O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, demais componentes da Mesa, nesta Sessão, em tão boa hora requerida pelo Ver. Vicente Dutra, eu fiz questão de falar, apesar de representar uma pequena Bancada, aqui constituída apenas por mim, de um grande Partido, porque a Itália nos toca, a nós gaúchos, muito de perto. Tanto no aspecto histórico, que se desenvolve no tempo, que se poderia apresentar como a imagem de tantos italianos que aqui, em termos épicos, participaram da vida deste Estado e deste País, se representaria por José Garibaldi, que numa simbiose perfeita, o leva até às lutas da Reunificação Italiana, com Anita Garibaldi. Aspectos culturais, então, nem precisamos mencionar; aspectos políticos muito menos, basta relembrar que de 1954, os governadores, Meneghetti, Brizola, Meneghetti de novo, Peracle, Triches e Guazelli, todos eles tinham o sangue italiano em suas veias. E, a mim, me toca, especialmente, esta contribuição italiana. Eu que fui criado numa cidade da fronteira, onde a imigração italiana, em vez de ser aquela tradicional que veio da Europa diretamente para Porto Alegre e, depois, se espraiou por tantas cidades como Caxias do Sul, Garibaldi, Bento Gonçalves, a nossa imigração, lá, era de italianos que vinham de Buenos Aires e de Montevidéu. Eu me criei, até me indagando o que faziam na fronteira, numa terra gaúcha, aquelas famílias poderosas, como Degrazzia, Mondadori, aquelas outras não tão poderosas, não tão ricas, como a família de Juvenal Bado, que veio, também, da Itália, por aquele lado, e até temos, hoje, aqui, o seu filho, que tem uma coluna no Jornal do Comércio sobre a cultura italiana, o Professor Dione Bado. Então, eu procurei estudar e ver a influência que esta cultura trouxe para nós, influências todas elas benéficas, de um país de civilização milenar que, depois de dominar o mundo durante um longo tempo, se esfacelou. Para onde se vai, aquele que tem oportunidade de viajar, como eu tive, se vai para Inglaterra, se vai para a Grécia, se vai ao Egito, se vai a Israel, lá está a presença italiana. E é isso que, em grandes números, em grandes idéias, eu queria colocar hoje. E, também, esta participação pessoal de quem teve o seu avô vindo para o Rio Grande do Sul como funcionário do Governo Italiano. Ele sempre dizia que ele não era imigrante, que ele era um funcionário do Governo Italiano que tinha vindo, aqui, para medir e conferir se as Colônias prometidas pelo Governo Brasileiro, estavam sendo entregues corretamente aos seus concidadãos. Nunca voltou. Por isso, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, tenho um Projeto, nesta Casa, se não me engano, de 1988, que cria a Semana Ibero-Italiana, para preparar, quem sabe, junto com os Órgãos da Prefeitura, a EPATUR, especialmente, - consta do Projeto -, a grande efeméride que teremos na década seguinte: neste ano, Revolução Francesa, na década de 1990, Descoberta da América, feita pelo italiano Cristóvão Colombo. Procurei, também, logo que pude, estudar na Itália, lá em Turino, na cidade de onde se originou o Movimento de Reunificação Italiana em 1861, com a Família Savoya; Naquele País que, destroçado pela guerra, teve condições de fazer um plebiscito, logo após a guerra, não havendo um período de transição de décadas, o plebiscito que definiu a República Italiana. E, finalmente, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Sr. Cônsul, faço questão de trazer esta agenda, que descobri depois do falecimento do meu pai, em que ele começa o seu livro, escreveu só uma página de texto, e diz o seguinte: “Vai adiante o que se sabe, ou se pensa saber, dos nomes que aqui se relacionam. Giuseppe e Hermínia, vindos da Itália, Província de Mantua. Residência inicial, 4º Distrito de Vacaria, Sede do 4º Distrito de São Luiz, Rei da França, onde nasceram todos os netos, filhos e demais familiares.” Este foi o início de um trabalho, junto com a árvore genealógica, que ele quis fazer para tentar resgatar a história do seu humilde pai. Mas é a história que criou grande parte deste Estado, porque todos os italianos, ou a maioria dos italianos, que aqui vieram eram pessoas humildes. Eram pessoas que vieram aqui fazer a sua nova vida e a fizeram elevando este Estado e este País ao poderio que hoje se vê. Quando se diz que Porto Alegre tem mais descendentes de calabreses do que a pequena cidade de Morano Cálabro, na Itália, é que se vê a contribuição que este povo tem para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul. É por isso, Sr. Presidente, que esta Casa resgata, efetivamente, uma dívida que tinha com este povo, com os seus descendentes, em boa hora, votou-se esta Sessão Solene. Nós dizemos todos, Sr. Cônsul, que o Rio Grande muito deve à República italiana e muito pouco faz, ainda, para que os vínculos tradicionais deste Estado com a Itália sejam cada vez mais desenvolvidos e espero que esta Sessão seja o início de um trabalho ainda mais forte destas entidades que sem recursos, sem condições, lutam para manter viva aquela chama da República e do Império Italiano. Sou grato.

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Airto Ferronato, que falará pela Bancada do PMDB.

 

O SR. AIRTO FERRONATO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, irmãos italianos aqui presentes, demais autoridades, senhoras e senhores, ocupo esta tribuna para falar em nome dos Vereadores do PMDB desta Casa Legislativa, para homenagear com grande orgulho e alegria a República da Itália, instituída em 2 de junho de 1946, neste ato representada pelo Cônsul Geral da Itália no Rio Grande do Sul, Vittorino Rotondaro.

Ensina-nos a Geografia que o cidadão não deve considerar a esfera nacional como a comunidade mais ampla possível com a qual possa identificar-se.

Cabe-nos, hoje, admitir o civismo em função da comunidade internacional.

Nosso afeto patriótico deve abranger, numa igual e completa cordialidade, os descendentes portugueses, dos negros, dos espanhóis, dos índios, dos eslavos, dos alemães, outros povos e hoje, especialmente, da comunidade italiana que vive em nosso País.

Então, temos que reconhecer homens, senão semelhantes, seres da mesma natureza e do mesmo espírito, para quem o povo brasileiro teve sempre abertas, com amizade e hospitalidade inigualadas, suas casas e suas almas.

Como ninguém será perfeito cidadão deste mundo se não for, antes, perfeito cidadão do seu país, quero, nesta condição e como descendente de italianos, compartilhar convosco o significado desta data, rendendo-lhes esta homenagem, singela em sua expressão exterior, mas repleta de carinho e gratidão, por tudo o quanto o povo italiano tem contribuído e representou na formação da Nação brasileira, ajudando-nos a nos afirmar com personalidade própria no concerto das nações.

Oriundo que sou da região colonial do Vale do Rio Taquari, sou testemunha, como de resto toda a comunidade gaúcha, da história recente e do passado de lutas da brava gente italiana.

É com profundo respeito e admiração por este passado laborioso, com a mente no ontem e com os olhos fixos no futuro, que constatamos, no presente, nossos vales, no alto dos morros e ao longo dos rios, a nova geração italiana trilhando o mesmo caminho de prosperidade de seus antepassados, através do profícuo trabalho de suas generosas mãos, dando-nos a certeza de um amanhã promissor, como membros homogêneos de uma mesma família, a família rio-grandense e brasileira. Temos a convicção que, no setor rural, coube à imigração italiana a importante missão de desbravar, a partir de 1870, nossas terras, difundindo em nosso meio novas culturas e novas técnicas de conservação e recuperação do nosso solo.

Este é o papel mais importante da imigração em um mundo com elevado índice de crescimento demográfico, dispondo ainda de imensas áreas inexploradas ou insuficientemente utilizadas.

Sabe-se também, com efeito, que o imigrante profissional cuja formação nada custa ao país de imigração, se constitui num capital e numa poupança que pode ser canalizada para investimentos imediatamente produtivos.

Um País como o Brasil, empobrecido por uma década, e que era porto de chegada, virou aeroporto de saída. Os imigrantes do início do século, os homens sem perspectivas do pós-guerra foram substituídos por seus filhos. Não há mais navios abarrotados, não há mais canções tristes de pais que deixaram suas casas para virar carne de macello (carne de açougue), na expressão tragicamente consagrada das canções napolitanas.

A Itália de hoje é um país rico, 5ª economia do capitalismo, tem um PIB de 850 bilhões de dólares, uma poderosa economia informal e um mercado sofisticado. Há duas décadas dizer isto era temerário, era na visão das pessoas uma verdadeira utopia.

Era o país das pizzas e das óperas bufas, do passado suntuoso.

Era também a terra dos Césares, do Renascimento, de Leonardo da Vinci e de Verdi.

Era também apenas uma bota perdida no Mediterrâneo que hoje se pôs a chutar com estilo.

É um dos países que mais encarnou o espírito ocidental. (Não à toa hospeda o Vaticano, virou centro de uma modernidade possível.)

O alvo último dos imigrantes, que afinal rompe com seu passado, e em certo sentido, destroem suas vidas na esperança de dias melhores, acabou deixando de ser il brasile. Os ítalo-brasileiros voltam os olhos para a Itália viva.

Prova disto foi a feira denominada “Sistema Itália”, realizada entre 10 e 21 de maio de 1988 no pavilhão da bienal do Parque Ibirapuera em São Paulo, onde foram expostas 130 mil toneladas de máquinas, equipamentos e material impresso. Essa feira exigiu US$ 7 milhões, faz parte de um projeto maior chamado “Itália Viva” que teve por objetivo divulgar a imagem de um país moderno e saudável economicamente, por meio, até mesmo, de eventos culturais.

Graças aos esforços do Embaixador Italiano no Brasil, Antônio Ciarrapico e do Diretor da Feira Giancarlo Nardi, do Instituto de Comércio Exterior, os empresários brasileiros puderam conhecer o sistema italiano de trabalhar, com destaque para a tecnologia avançada de sua indústria e também seu design, famoso e conhecido internacionalmente.

Esta feira foi planejada a exemplo da “Itália 2.000”, realizada em Moscou, em outubro do ano passado, com o mesmo espírito de retratar a imagem de um país tecnologicamente avançado.

Hoje, entusiasmados, os italianos já colhem os primeiros resultados através de acordos já fechados com o governo soviético, objetivando a transformação de 500 mil hectares de deserto em comunidades agrícolas, com habitações para os novos moradores, galpões para armazenagem das colheitas, sistema de irrigação e toda a infra-estrutura necessária (luz, estradas, esgoto, escolas, etc.). O Grupo Ferruzi, que no Brasil controla a indústria de alimentos Cica, realizará esse projeto.

Os anos 1980 têm sido extremamente benéficos para a Itália, com uma economia em ritmo estável e moderado de expansão. A inflação sob controle, a Itália tem obtido bons resultados com o esforço de saneamento da economia e das estruturas sociais, já tornou muito lucrativas suas estatais a tal ponto, que emudeceram os defensores das privatizações.

Na área política, um saudável espírito prático tomou conta dos partidos italianos, que discutem soluções concretas.

Finalizando, senhor presidente e senhores vereadores, é com o coração repleto de júbilo, que abraço, nesta data, à toda a comunidade italiana que hoje conosco convive, através de seus representantes aqui presentes, bem como reverenciar a memória daqueles que, mesmo em sua derradeira morada contribuem no amálgama do nosso dadivoso chão brasileiro, símbolo definitivo da solidariedade e universalidade humana. Um dia, Itália, se Deus quiser, nós te faremos uma visita.

Grazzie Itália, tantíssimi grazzie. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Giovani Gregol pela Bancada do PT.

 

O SR. GIOVANI GREGOL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, demais componentes da Mesa, Senhoras e Senhores.

“Da vida em meio da jornada, tendo perdido o caminho verdadeiro, achei-me embrenhado em selva escura. Escrever qual fosse tal aspereza umbrosa é tarefa assaz penosa que a memória reluta em relembrar. Tão triste era que na própria morte não haverá muito mais tristeza. Mas, desejando celebrar o bem que ali encontrei, também direi a verdade sobre as outras coisas vistas.”

E assim, citando o grande e imortal poeta Dante Alighieri, poeta de Firenze, Florença, é que desejo iniciar a minha homenagem, até porque o sentimento que perpassava naquele momento pela alma do poeta passa, na maior parte, também pela minha alma, porque o meio da jornada na qual falava o poeta eram os seus 35 anos da sua vida e eu com 31 anos ainda incompletos também estou quase como o poeta no meio da jornada e também tenho receio de aqui cumprir esta missão que muito me honra: representar a Bancada do Partido dos Trabalhadores, porque a responsabilidade e a emoção para mim é muito grande. Também, mas não só porque sou descendente de italianos. A única diferença é que o poeta estava triste quando começava a sua jornada da Divina Comédia, e eu estou alegre.

Dante - e eu fiz esta referência - é um poeta importante na literatura mundial, universal, principalmente na literatura ocidental porque ele rompeu com aquela tradição que havia da elite, da aristocracia intelectual da sua época de escrever só em latim, de forma que só os letrados entendiam. Dante escreveu a Divina Comédia em língua coloquial, em língua que o povo de sua época poderia entender e com isso a sua obra só se engrandeceu e continuará sempre sendo imortal; mas falar da Itália é muito difícil porque falar da Itália é falar da vida, em todas as suas manifestações alegres, esplêndidas, magníficas e também na dialética que compõe a vida e que ela contém; falar também das coisas tristes, e por que não?

Como começar a falar da Itália? Falando da fundação de Roma, que a tradição coloca no ano 753 a.C., que as escavações arqueológicas comprovam aproximadamente esta data; ali nas colinas, que ainda hoje existem. A primeira pequena aldeia fundada numa dessas colinas; passando por toda a longa tradição e a longa história de Roma e do Império que Roma criou, da missão civilizatória que ela teve e que ainda hoje, a nossa cultura, inclusive a língua que estou usando e que estamos usando para nos comunicar nesta Sessão, é herdeira daquela civilização. Falar dos grandes homens políticos, dos grandes escritores, dos grandes dramaturgos, como Virgílio, como Ovídio, o Imperador Filósofo Marco Aurélio. É falar da brilhante Idade Média italiana e do seu Renascimento; é falar do Petrarca, é falar de Dante; é falar dos grandes pintores e de outros; é falar de Leonardo da Vinci; de Michelangelo Buonarotti; de Michelangelo Caravággio; do grande arquiteto, escultor e pintor Bruneleschi, que, ao idealizar e construir a Cúpula da Catedral Maior de Florença, Santa Maria dell Fiori, a concebeu de forma octogonal, de maneira que ao visualizar aquela Cúpula oitavada, nós tivéssemos a impressão de uma pétala de flor aberta ou a abrir, simbolizando assim o nome de Santa Maria das Flores.

É uma história, uma tradição e um povo, principalmente, que embasou uma cultura popular e erudita e que continua florescendo, continua nos inspirando e continua nos dando lições.

É falar da grande Batalha da Unificação e da construção da pátria italiana tão bem simbolizada pelo canto dos hebreus na ópera de Giuseppe Verdi, que cantava na época o exílio numa analogia do povo hebreu ao sair da escravidão do Egito, o sofrimento do povo italiano que vivia sob o tacão do imperialismo austro-húngaro. E conseguiu, finalmente se unificar e construir um país com percalços, com dificuldades; um país que hoje é a 6ª economia mundial; um país que tem um enorme parque industrial concentrado principalmente no norte do seu território; um país de agricultura moderna e intensiva; um país que gera e utiliza alta tecnologia; um país que pela sua exigüidade territorial importa matérias-primas e exporta produtos manufaturados e industrializados, que exporta calçados, artigos motomecânicos, ferro, aço, laminados, máquinas e equipamentos não-elétricos, móveis, máquinas para escritórios. Um país aonde predomina a energia hidroelétrica, mas não as grandes hidroelétricas, até porque, o país não tem grandes cursos d’água, mas as pequenas e médias hidroelétricas como nós poderíamos fazer no Brasil ao invés de construir as Tucuruis e as Balbinas, destruindo a mata Amazônica. Pequenas hidroelétricas que sustentam a 6ª economia mundial e a grande tecnologia e indústria de ponta, que ela tem; país que inclusive optou por um plebiscito nacional encabeçado pelo movimento ecológico italiano que é muito forte e que resolveu, o povo italiano, através de um plebiscito, democraticamente, optou pela não utilização da energia nuclear, apesar do país ser pequeno, apesar do país ter poucos cursos d’água, apesar de ter problemas de geração e obtenção de energia. Assim o país também procura as energias alternativas do carvão e tecnologias mais sofisticadas e menos poluentes. O país que experimenta a energia eólica, principalmente no sul do seu território. O país investe em energia solar. Acho que é uma lição e mais um exemplo que o nosso País deve tirar da sábia Itália, um país onde a qualidade de vida em média é muito boa, de qualquer forma muito maior que a nossa; um país onde a renda per capta oficial é atualmente 16 mil dólares. E se nós considerarmos a economia informal, que é muito forte na Itália; um país que tem sim, como dizia o poeta, aspectos penumbrosos, tem pobreza, mas que estão diminuindo rapidamente, - especialmente no Sul. Um país que enfrenta, corajosamente, esses problemas, problemas de ordem social, de ordem econômica, de ordem política, inclusive de natureza partidária, mas enfrenta com a democracia. Foi através do fortalecimento e da manutenção da ordem democrática, que a República Italiana, depois da II Guerra conseguiu se firmar. Conseguiu se lançar no plano das nações mais poderosas. Mais poderosas, mais desenvolvidas, não em termos de armamentos, não em termos militaristas, porque a Itália, fora os mísseis nucleares que lá estão, colocados por outra potência, tem um armamento, principalmente defensivo. Mas, entre os países mais desenvolvidos, de economia mais eficiente, e de povo mais feliz, se encontra a Itália.

Mas, tudo isso foi conseguido, através da reafirmação e da crença inabalável na ordem democrática. Eu creio que no momento em que nós brasileiros, vamos fazer pela primeira vez, em mais de 30 anos porque a maioria de nós brasileiros ainda não votou para Presidente da República, infelizmente. E no momento em que pescadores de águas turvas, ainda assinalam, com ameaça de um retrocesso, eu acho que a atitude dos italianos, do povo italiano em especial, da Nação italiana como um todo, é um exemplo para todos nós.

Um país que consegue viver com o crescimento e com o movimento sindical extremamente forte, organizado, reivindicador, talvez um dos mais organizados do planeta. Um país que convive com vários partidos políticos, Democracia Cristã, Socialista, Partido Comunista Italiano que, inclusive, governa várias grandes cidades da Itália, como Bologna, cujo Prefeito eu tive o prazer de conhecer aqui no Brasil, - Partido Republicano; Liberal; Social Democrático; Partido Verde, dezenas de grandes Sindicatos e, de outro lado, de grandes empresas, inclusive multinacionais, como a Olivetti, a Fiat, que conseguem, com interesses contraditórios, conviver e conseguem construir uma grande Nação. E, aí, claro, um outro exemplo importante, um país que, no século passado, ainda no início deste século, exportava pessoas e que hoje recebe fluxo imigratório do mundo todo, especialmente dos países mais pobres da Europa e do Norte da África. Um país que trouxe uma contribuição muito importante para a nossa cultura, para nós todos, agora, aqui, e sempre lhe homenageamos, para nós todos descendentes de italianos que com muita honra dizemos e afirmamos isso. Os italianos vieram ricos, é verdade, mas a maioria era pobre. Inclusive Verdi dizia, logo depois da Reunificação, da Fundação da República, ou melhor, da Pátria, da Nação Italiana, para que tudo isso? Se os pobres vão embora, vendo os navios carregados de imigrantes saindo de Nápoles, Gênova. Mas Verdi não podia prever que isso eram sementes que iriam frutificar abundantemente em outras terras, inclusive na terra brasileira, trazendo para nós uma cultura, trazendo para nós uma contribuição tecnológica haja vista o papel da industrialização no Brasil dos descendentes e imigrantes italianos, uma contribuição em termos sociais, em termos de convivência humana, o movimento cooperativista brasileiro nasceu no sul do País, especialmente no Rio Grande do Sul, como contribuição, principalmente, dos imigrantes italianos. O próprio movimento sindical brasileiro, organização dos trabalhadores brasileiros ganhou grande impulso através daqueles italianos que advogavam, comungavam da ideologia anarquista, anárquico sindicalista, ou socialista e que aqui no Brasil provocaram um impulso na organização sindical e partidária em solo brasileiro. Tudo isto são contribuições inestimáveis que nós, e eu aqui em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, reafirmo, devemos à terra italiana, aos quais nós queremos e estamos fazendo jus, lutando, também, por nossa parte, por um País que não será certamente o que a Itália é hoje, já que nós temos uma outra realidade social, política, econômica e cultural, mas que nós se conseguirmos dentro de 10 ou 20 anos, ou se Deus quiser antes, se nós conseguirmos chegar próximo de alguns índices de renda, principalmente, de desenvolvimento, nós seremos certamente um pouco mais felizes, não sem problemas, como a Itália não é um país sem problemas, mas um país que consegue, como a Itália, superar as suas contradições e avançar, tendo uma perspectiva de futuro mais alvissareira.

“Neste ponto faltou alento à minha inspiração. Mas já, então, Deus dominava a minha vontade, fazendo-a conforme ao seu amor, qual roda obediente ao mando do motor - amor que move o sol e as demais estrelas.”

Finalizo como Dante finaliza a sua Divina Comédia, agradeço a atenção de todos e digo: Viva a Itália! Sou grato. (Palmas.)

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra, a seguir, ao Ver. Cyro Martini que falará em nome da Bancada do PDT.

 

O SR. CYRO MARTINI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores, reunimo-nos, nesta oportunidade, com o justo propósito de rememorar e homenagear a República Italiana.

Com um território ligeiramente superior ao do Estado do Rio Grande do Sul, sob um clima geralmente ameno, a península itálica abriga uma população de 57 milhões de habitantes.

Embora a Itália, como Estado unitário, tenha uma história recente, ela é, há mais de 3.000 anos, sede de grandes civilizações que marcaram profundamente a evolução da cultura ocidental. Berço dos Etruscos e da Magna Grécia. Centro do Império Romano que por muitos séculos dominou o mundo ocidental.

Com a queda do Império Romano (476 d.C.), a cultura e a civilização romanas, mesmo assim, não sucumbiram. A Itália manteve durante toda a Idade Média uma posição privilegiada como sede do Papado e centro da cristandade.

No fim do século XI, verificou-se na Europa uma renovação econômica, cultural e social que determinou na Itália a civilização das “comunas”. Muitas cidades italianas se organizaram democraticamente e se tornaram autônomas em relação ao Império. A civilização das comunas foi notavelmente fecunda, seja no plano econômico e social, seja no plano cultural. A cidade de Florença, por exemplo, no século XIV deu à literatura Dante, Boccaccio, Petrarca.

Durante os séculos XIV e XV, a Itália destacou-se mais uma vez no plano cultural, dando origem à Renascença, que abrangeu todos os aspectos da vida: a política, a literatura, a arte, a ciência, os costumes. Rafael, Michelangelo, Galileu, Machiavel, Ariosto, Leonardo, são alguns nomes representativos da época.

Politicamente, a Itália ficou sujeita aos acontecimentos decorrentes das lutas pela supremacia das potências européias e foi freqüentemente invadida por exércitos estrangeiros.

Essa situação prolongou-se até a Revolução Francesa. As idéias de liberdade e de igualdade foram difundidas pela Itália, acabando por modificar suas estruturas políticas. Começou, então, o “Risorgimento italiano”, movimento que visou à criação de uma Itália unida e livre da dominação estrangeira.

O Processo de unificação efetuou-se em um período de 50 anos, conduzido, por um lado, pelas forças políticas e militares do Rei da Sardenha e, por outro, pelas sociedades secretas, como a “Carboneria” e a “Giovane Itália”, que difundiam a idéia de liberdade e promoviam insurreições, visando à realização da unificação.

Os protagonistas da política italiana nesse período foram Giuseppe Mazzini e Giuseppe Garibaldi, animados por ideais republicanos e os Savóia - reis da Sardenha, que se tornaram reis da Itália, que tiveram no Ministro Cavour um dos maiores artífices da unificação italiana.

O primeiro ponto de encontro significativo entre a Itália e o Rio Grande do Sul está em Giuseppe Garibaldi, ou seja, José Garibaldi.

Garibaldi (1807-1882), o Herói de Dois Mundos, já integrado a Marinha da Sardenha, aderiu em 1833 ao movimento Jovem Itália, “Giovane Itália”. Envolveu-se em uma conspiração que, descoberta, obrigou-o em 1834 a vir para o Brasil. Em 1836 recebeu um comando do General Farroupilha Bento Gonçalves, tomando assim parte da Guerra dos Farrapos. Em 1839, com a catarinense Ana Ribeiro da Silva - Anita, foi para o Uruguai, onde também acabou participando de disputas bélicas. Em 1848, voltou para a Itália, contando com a companhia de Anita. Retomou a sua luta, tendo que novamente exilar-se, agora nos Estados Unidos. Retornou para a sua Itália, em 1854.

Quando em 1859, estourou a guerra com a Áustria, assumiu o comando da Brigada dos Caçadores dos Alpes, derrotando o inimigo em uma série de batalhas. Em 1860, com Crispi e Bertani, organizou a expedição dos “mil camisas vermelhas”, para conquistar o Reino de Nápoles. Desembarcou na Sicília, a 11 de maio. Em julho já se adonara da ilha. Partindo para o continente, entrou em Nápoles a 7 de setembro e no mês seguinte destruiu o resto das tropas dos Bourbons em Volturno. A 7 de novembro acompanhou Vitor Manuel a Nápoles. Estava efetivada a unificação italiana. Garibaldi, porém, continuou sua luta: no campo bélico, em tempos de guerra; no campo político, em tempos de paz.

O Rio Grande do Sul devota grande apreço por Garibaldi, tanto que tomou o seu sobrenome e o pôs em um de seus principais Municípios.

Garibaldi veio a falecer justamente em um dia 2 de junho, do ano de 1882, em Caprera.

Após rebeliões e guerras, Vittorino Emanuele II de Savóia conseguiu reunir os vários pequenos Estados italianos, fundando em 1861 o Reino da Itália, do qual, em 1870, Roma foi proclamada capital.

Finalmente, com a Primeira Guerra Mundial, o território nacional, anexando as regiões do Trentino e do Friuli e a cidade de Trieste, completou-se e acabou fixando-se, após acordos internacionais sucessivos à Segunda Guerra Mundial nas atuais fronteiras.

O sistema político da nação italiana foi modificado em 1946, após um referendum, sendo então proclamada a república democrática e adotou a sua atual Constituição Nacional. Tal transformação ocorreu exatamente em 2 de junho de 1946.

O Rio Grande do Sul, nós, rio-grandenses, muito devemos à colonização italiana. A pecuária, a agricultura, a culinária, a indústria, o comércio, o jornalismo, a cultura, a educação e outras atividades sul-rio-grandenses devem sobremaneira aos imigrantes italianos e a seus descendentes.

A colonização do solo gaúcho por italianos teve início ainda durante o período do governo imperial, no Brasil. Em 1875, as melhores terras do Rio Grande já estavam ocupadas. Os italianos não esmoreceram e foram estabelecer-se na borda meridional do planalto: uma região montanhosa coberta por uma densa floresta virgem e isolada. A partir daí, os italianos começaram a movimentar-se pelo Estado, embora o núcleo principal permaneça lá naquela região. Região que todos nós sabemos se no passado foi inóspita, hoje consagra e caracteriza uma gente e um povo e que permite a todos nós, quando lá comparecemos, vislumbrar as mais belas paisagens que o Rio Grande do Sul possui.

Na Campanha Gaúcha, o descendente italiano aculturou-se de tal modo que muitos não se dão conta das suas origens italianas, conquanto aqui ou acolá possa haver um grupo que guarde suas características originais.

Porto Alegre, como de resto em todo o Rio Grande, os italianos iniciaram pelas atividades agro-pastoris. Uns localizaram-se na zona norte da Capital, como aqueles dos quais, pela linha materna, descende este modesto Vereador: Petuco, Martini. Outros localizaram-se na zona sul, entre Teresópolis e Vila Nova.

O Rio Grande do Sul e Porto Alegre muito devem aos italianos e aos seus descendentes. De tal dívida, muito se orgulham.

Nesta Casa Legislativa, há vereadores, nas veias dos quais corre, se não totalmente, pelo menos parcialmente, sangue oriundo da Península Itálica.

Registro com esta alocução a saudação e a homenagem do Partido Democrático Trabalhista - PDT - à Itália e ao seu povo, na data consagrada à proclamação de sua república. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Omar Ferri.

 

O SR. OMAR FERRI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, minhas Senhoras e meus Senhores, acho que como descendente de segunda geração de italianos, principalmente por parte de minha mãe, deveria contar duas pequeninas histórias nesta eloqüente e grandiosa data, em que se comemora o aniversário da intrépida e renovada Itália de nossos dias. Criei-me numa vilazinha onde todas as pessoas eram italianas, bem próxima da vila do Ferronato onde, se repetia a mesma circunstância.

Em Ilópolis, hoje cidade, havia umas noventa casas e, praticamente, a língua oficial até a 2ª Grande Guerra era italiana. Depois, com a guerra houve muita atuação do poder discricionário e autoritário e lembro-me que os nossos avós ficaram impedidos de falar na única língua que tinham capacidade de se expressar. Mas foram coisas que aconteceram e hoje os nossos povos superaram essas pequenas divergências e assim que de Ilópolis fui estudar em Encantado, em Lajeado, em Guaporé, e em Porto Alegre, onde me formei. Algum tempo após, em 1960, fui convidado por um juiz para fazer um júri meio tenebroso em Guaporé, porque nenhum advogado daquela cidade aceitava em ser advogado de defesa, eis que o crime era realmente hediondo. Aceitei a incumbência e viajei para Guaporé, onde eu tinha um amigo que era o hoteleiro da cidade, e que se chamava Leonida Carpi e que, portanto, era um italiano e ele disse-me quando cheguei: tu veio fazer o júri, és meu hóspede oficial e eu não te cobrarei a estada aqui no meu hotel e eu fiquei muito sensibilizado pela visão e pelo descortínio desse cidadão que tinha consigo a cultura de dois mundos e a arte também porque era um emérito tocador de violino e o velho Carpi, hoje falecido, não é nada mais nada menos do que o pai da atual Presidente da Subseção da Ordem dos Advogados do Rio Grande do Sul, Drª Cléa Ana Maria Carpi da Rocha.

Então, eu quis retribuir esta homenagem porque era muito comum no interior se convidar pessoas gratas para fazer parte da tribuna da Defesa, por essa razão convidei o Sr. Carpi para sentar ao meu lado. De repente os debates se acaloraram e o promotor público entendeu de diminuir o nosso trabalho de defesa e, até, acenou dizendo que do meu lado estava um estrangeiro e isto nos desmerecia, então eu vi quando este cidadão se transfigurou e começou a chorar em grandes soluços e dizer: ninguém é mais brasileiro do que eu porque aqui cheguei, estabeleci-me, sou comerciante, casei e as minhas filhas são brasileiras, eu amo esse País mais que o senhor. O juiz foi obrigado a interromper o júri por algum tempo. Vejam a profundeza e o significado deste acontecimento. De repente um italiano atravessa os mares, chega aqui e vem trabalhar, vem ajudar o progresso deste País e se transforma em mais brasileiro do que nós próprios. E nós temos, portanto, este cunho, este traço, esta ideologia de termos chegado no Brasil para ajudar este País a progredir, com mais sentimento de brasilidade do que os outros que há muitos anos - sem desmerecer os que estavam aqui - mas não imprimiam aquele sentido de progresso que a Pátria necessitava.

Esta é uma história, mas igual ou talvez maior mérito eu poderia dizer em relação aqueles que lá ficaram, sendo essa outra estória. Para ver que já faz parte do congraçamento dentro de uma atmosfera espiritual que nunca desuniu os povos italiano e brasileiro.

Eu fui para a Itália pela primeira vez em 1982, já tinha ido para a Europa, mas não conhecia a Itália e fui a convite de um cidadão que se chama Antônio Crivellaro, Diretor da Faculdade Palestrina, que já condecorou o Vereador Dib e a mim numa determinada ocasião, cujo pai se chamava Angelo Crivellaro, era um maestro que fundou a Palestrina e que hoje, inclusive, é nome de rua. O professor Crivellaro, há alguns anos, foi convidado pela rádio e televisão francesa para participar de um júri, num seminário internacional de violão e lá, da França, ele resolveu visitar os parentes, porque ainda, o pai e a mãe tinham irmãos na Itália, vivos.

Num determinado dia, tomando um chope, num restaurante, eu disse: Crivellaro, me conta como foi a história do encontro com os teus parentes, em Tômbolo, que é uma cidadezinha que fica a 40 km de Pádova e a 25 km de Vicenza, perto do Cittadela, na Região Veneta. E enquanto o Crivellaro no bar me contava a história fiquei tão emocionado que quase chorei, pois uma lágrima se atreveu e correu pelas minhas faces de tão emocionante que foi. O Crivellaro disse: “saí de Paris, fui até Milão e embarquei naquele trem de Milão a Veneza, desci em Santo Antônio de Pádua. Peguei um táxi e pedi para me levar até Tombolo.” Tombolo é uma cidadezinha de 5 ou 6 mil habitantes, um picolo pase. Lá chegando se dirigiu a um dos bares do centro da cidade. O bar se chama Bacu. Não sabendo se encontraria os parentes e como seria recebido disse para o chofer: “espera aqui que possivelmente a tarde haveremos de retornar para Santo Antônio de Pádua.” O Crivellaro chegou, entrou no bar e pediu para o proprietário se ele conhecia a dona Isolina. O dono disse: “sim, mora aí, conheço.” “Pois gostaria de falar com ela.” Enfim, o dono do bar o levou à casa da Isolina que era prima-irmã do Crivellaro e ele disse para a Isolina: “Isolina, sou Crivellaro filho do maestro Angelo” - e disse o nome da mãe dele que agora não me ocorre. Mas, aí, foi uma explosão de amor e de sentimento, e de repente sem parar dona Isolina convocou toda a parentada e o Crivellaro se encontrou com todos eles e fizeram festa, e não paravam de fazer festa que lembravam as do filho pródigo que voltava à casa, ao lar e foram 8 dias de festa. O Crivellaro retornou ao Brasil, mas de vez em quando, cada dois ou três anos nos leva para lá, uma vez a mim, outra vez o Romildo Bolzan, que é o Presidente do Tribunal de Contas, e, cada vez que nós chegamos em Tombolo somos festejados com solenidades, almoços e jantas nas casas deles pelo tempo todo, daí porque “scherzando” eu digo que somos condenados à morte de tanto comer e beber e quando parto digo: “ainda não foi desta vez que morremos.”

Então vejam bem esse congraçamento que sucessivamente acontece, Sr. Rotondaro. A alma brasileira e a alma italiana parece que se uniram no momento em que Garibaldi veio aqui e lutou pela nossa independência, pela República do Estado do Sul Brasileiro, lutou pela independência sul-rio-grandense, para depois voltar e lutar pela Unificação Italiana. Esses fatos comprovam a permanência duradoura da irmandade brasileira italiana.

Nós nos consideramos aqui, evidentemente, e com muita honra, descendentes de italianos, mas assumidos a nossa brasilidade, o nosso sentimento de nacionalidade. E sabemos que os italianos que chegam aqui todos eles, vem aqui para contribuir para com o engrandecimento da nossa Pátria e do nosso Estado.

Parabéns a V. Exª que representa a Nova República da Itália. Parabéns ao Vereador Vicente Dutra, que em boa hora solicitou que a Câmara e que a comunidade de Porto Alegre se tributasse essa merecida homenagem, parabéns Sr. Presidente, parabéns Srs. Vereadores e toda a comunidade porto-alegrense que aqui está presente.

Eu repito aquilo que disse um Vereador há pouco, só há uma palavra, só há uma manifestação, só há uma expressão. Viva a Itália e Viva o Brasil! Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Vicente Dutra que falará pelas Bancadas do PDS, PTB, PL e PCB.

 

O SR. VICENTE DUTRA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, demais autoridades presentes, a homenagem que a Casa do Povo de Porto Alegre, presta neste 02 de junho, quando se comemora a data nacional da Itália, tem o significado de reconhecer a extraordinária contribuição da nação italiana ao Brasil e, em especial, a nossa Porto Alegre.

É assim com grande alegria e ao mesmo tempo com profundo respeito, que esta Câmara recebe hoje as principais lideranças e expressões culturais dos italianos de nossa comunidade para que, irmanados aos representantes do povo, recebam esta singela mas justa homenagem, por tudo que representam na alma da Cidade.

Permitam-me senhores, discorrer ainda que em rápidas abordagens o significado da data que hoje comemoramos. A grande história da Itália se confunde, por certo, com a história da humanidade e é rica de episódios importantes, principalmente nos últimos 25 séculos. Reunificada na segunda metade do século passado, tem a Itália, justas razões para instituir o 2 de junho como sua data nacional.

É o momento em que a Itália entra na era da sua plenitude, instituindo a República Italiana, através de plebiscito realizado exatamente neste dia 2 de junho em 1946. Instalada a República em moldes democráticos, tendo como estrutura básica o modelo Parlamentarista, começa a escalada econômico-social da Itália, que hoje a faz uma das maiores economias do mundo, proporcionando aos italianos um invejável nível de vida. Esta data significa, sobretudo, a supremacia do regime democrático parlamentarista.

O equilíbrio dos partidos no poder, partidos que se formaram das mais antagônicas tendências ideológicas, faz do Estado italiano um excelente modelo de vivência democrática. As várias categorias que compõe a estrutura social italiana alcançam, através de seus representantes, a participação na vida política, e desta forma tem atingido os ideais almejados por estes distintos grupos sociais.

Num todo, e em particular, o cidadão italiano, tem sua representação política no Parlamento. E foi esta vivência democrática iniciada a 2 de junho de 1946 que permitiu e deu condições ao positivo desenvolvimento econômico que hoje desfruta a Itália. A partir de 2 de junho de 1946 inicia-se uma busca permanente de um modelo político adequado à realidade italiana. O modelo político está em constante renovação acompanhando, assim, as transformações sociais e culturais da sociedade.

A democracia italiana constitui um modelo peculiar - não são verificadas as ortodoxias - os modelos teóricos não foram transplantados. Em suma, a Itália encontra cotidianamente a resposta política a sua transformação social. E esta reposta política enseja o desenvolvimento econômico pungente e o bem estar social.

A percepção da Itália no presente é motivo de orgulho e satisfação aos milhares de descendentes dos imigrantes italianos que se espalham por todos os países do mundo, ajudando na construção dos mesmos. É o caso do Brasil, que teve o privilégio de contar com a operosidade da presença do italiano e englobar na cultura brasileira inúmeros traços culturais peninsulares.

No Rio Grande do Sul, mais de que em São Paulo, o colono imigrante italiano provocou o desenvolvimento em amplas áreas na encosta superior do Nordeste, constituindo vastos contingentes da classe intermediária que tende a favorecer o equilíbrio social. A pequena propriedade, amplamente produtiva, caracterizou e tornou o Estado do Rio Grande do Sul, diferente de outros Estados brasileiros. O modo de falar, a perpetuação dos hábitos alimentares, o tipo de família nuclear, a manutenção de uma determinada estrutura de parentes que era predominante na Itália, tornaram rica a zona colonial rio-grandense, sob o ponto de vista cultural. As cidades também se beneficiaram do legado cultural e do trabalho do italiano. Porto Alegre é um exemplo, contando já desde o fim do século passado com cerca de 10% de população italiana, predominantemente de origem meridional e por isto mesmo portadora de hábitos e costumes que enriquecem como indivíduos e como grupos a tescitura social da nossa Cidade.

Contribuição valiosa esta Cidade vem recebendo de numerosos descendentes como professores, políticos, artistas, engenheiros, advogados, industriais, comerciantes, eclesiásticos e intelectuais, enfim de todos os segmentos da sociedade, cujas presenças é por demais evidente na vida porto-alegrense. É aqui em Porto Alegre que está sediado o Consulado Geral da Itália, a Câmara da Indústria e do Comércio italiana, o Conselho de Emigração Italiana (COEMIT), o Centro Ítalo Brasileiro, o Instituto Cultural Italiano, o Instituto de Assistência Social aos Italianos no Rio Grande do Sul e, recentemente criados o Circolo Calabrese do Rio Grande do Sul e a Associação Calabresa do Rio Grande do Sul. Destaque-se, por igual, o Centro de Estudos da Pastoral Migratória e o Centro Ítalo-Brasileiro Assistência e Instruções de Migrações (CIBAI), ambos mantidos pela congregação dos Padres Carlistas e o Centro de Estudos Migratórios Cristo Rei, mantido pelas Irmãs Carlistas e pela Ordem dos Capuchinhos de Sabóia, com atendimentos e publicações através das Edições EST.

Este Plenário sente-se sumamente honrado com a presença de tantas expressões da cultura italiana; como do ilustre mestre Dante de Laytano; da professora e historiadora Nuncia Santoro de Constantino que tem me socorrido com sua sábia orientação, para que em momentos como estes possamos transmitir com fidelidade episódios históricos e traços da cultura italiana; do professor e historiador Frei Rovilio Costa, cidadão de Porto Alegre; do professor e emérito historiador Luiz Alberto de Boni, atual Diretor da Faculdade de Filosofia da UFRGS, dentre tantos outros.

São estes italianos que procuro representar neste momento, através de um mandato que nos foi conferido. Represento-os com alegria e grande orgulho, uma vez que me associo à comunidade dos descendentes por ser eu próprio um deles.

Aliás, esta Casa do Povo de Porto Alegre conta com um número expressivo de descendentes de imigrantes italianos, os Srs. vereadores Artur Zanella, Omar Ferri, Cyro Martini, Giovani Gregol, Ervino Besson, entre outros.

Nós, os descendentes, vibramos com a arrancada da Itália do pós-guerra e gostaríamos de buscar aspectos do exemplo político italiano para a construção do Brasil novo. O exemplo italiano nos dá esperança, pois de uma Itália conflagrada em meados do século passado, como decorrência do processo de unificação política, que começou a ver-se privada dos seus filhos em busca de outros mundos para alcançar os meios de sobrevivência. Nós que sabemos dos impactos que a Revolução Industrial trouxe à população italiana, aumentando ou engrossando os contingentes daqueles que eram praticamente obrigados a abandonar a terra de origem. Nós que conhecemos tantos contemporâneos que se lançaram para o Brasil, diante de uma Itália destruída por dois conflitos mundiais, na primeira metade deste século. É, efetivamente, razão de comemorar e registrar nos Anais desta Casa o júbilo em torno do dia 2 de junho, que assinala não só a Proclamação da República Italiana, mas sobretudo, a remissão da nação italiana livre e soberana.

Em nossa Cidade a contribuição italiana é muito antiga. Os nossos arquivos paroquiais revelam uma presença antecipada à imigração propriamente dita em quase 50 anos; em 1826 é batizada em nossa Cidade a menina Rafaela Magnoni, filha de italiano. A partir de 1835, já é bem conhecida a participação dos liberais italianos, num movimento republicano rio-grandense, ninguém desconhece a importância das ações políticas de um Anzani, Zambecari, de um Rossetti e do general Garibaldi, na Revolução Farroupilha.

O desenvolvimento verificado em Porto Alegre, em meados do século passado, inclusive faz com que a Cidade cresça e além do Centro Administrativo da província, se torne a esquina comercial da mesma. E neste momento são vistos os estabelecimentos comerciais de proprietários italianos na Cidade. Cerca de 50 famílias viviam em Porto Alegre por esta época, diversificando, juntamente com os imigrantes alemães, o povoamento da Cidade, que até então fora tipicamente colonial. E o italiano cosmopolita, politizado, enriquece nossa Cidade, mesmo antes da emigração oficial, que só vai iniciar em 1875. Ele traz na sua bagagem italiana idéias liberais avançadas à época e divulgadas nos inúmeros periódicos em língua italiana que circulavam na Cidade ou no convívio entre compatriotas que se verificaram nas dependências da sociedade Vittorio Emanuelle II, fundado ainda na década de 1870, cujo presidente honorário foi Garibaldi.

Portanto, ao ingresso dos primeiros imigrantes do Rio Grande do Sul, oriundos da Itália setentrional, a presença italiana e suas contribuições já eram notadas. Aos italianos setentrionais que predominantemente se localizavam no interior do Estado, juntar-se-iam os meridionais italianos, que longe dos lotes coloniais desenvolveram nas nossas cidades e, especialmente, em Porto Alegre, atividades tipicamente urbanas.

Porto Alegre presencia um importante fenômeno antropológico que é a manutenção da identidade étnica entre os imigrantes calabreses oriundos do Município de Morano Calabro no nosso meio, desde a penúltima década do século passado. Em grande número e perfeitamente assimilado à população porto-alegrense. Lutam, contudo, pela preservação de valores culturais e em razão disto criam espaços associativos como o Circolo Calabrese do Rio Grande do Sul que deverá divulgar e estreitar laços não só com a Regione Calábria, mas sobretudo, com a grande pátria italiana.

Para assinalar a homenagem da Cidade a estes seus imigrantes, em grande número meridionais, neste momento anuncio e dou entrada, nesta Casa, Sr. Presidente, de um Projeto de Lei dando o nome a um espaço verde em Porto Alegre de Praça Itália, é um espaço de 11.000 m² muito bem localizado, e que esta Casa irá apreciar, terá a sanção, por certo, do Executivo Municipal, dando o nome, resgatando inclusive uma homenagem que deveria ter sido feita há muito tempo por esta Cidade à colônia italiana. Como este Projeto de Lei está baseado num estudo do brilhante professor Frei Rovílio Costa, faz parte do processo e a justificativa que acompanhará ficará em seguida nos Anais para os tempos.

Como reconhecimento a grande contribuição italiana, apresento, por igual, a indicação ao Congresso Nacional, Sr. Presidente, deu entrada neste momento, sugerindo uma Emenda à Constituição no sentido de facultar o voto do imigrante italiano não naturalizado em eleições municipais nas cidades brasileiras, ensejando assim a valiosa participação política a nível de Municípios, justificando esta proposição inclui um magnífico trabalho da historiadora Nuncia Santoro de Constantino.

Concluo, Srs. Vereadores e senhores convidados, afirmando, neste recinto com as vossas presenças, que está repleto de representações históricas, está enriquecido com a mais autêntica e moderna expressão da democracia e modelo desenvolvimentista. Nossas presenças representam o espírito e a vontade do italiano, valorosos brasileiros, guapos gaúchos e exemplares cidadãos da nossa querida Porto Alegre. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Cônsul Geral da Itália, Sr. Vittorino Rotondaro, que falará em nome do seu país que está sendo homenageado, na qualidade de ser representante diplomático no Rio Grande do Sul.

 

O SR. VITTORINO ROTONDARO: Sr. Presidente, autoridades componentes da Mesa, Srs. Vereadores aqui presentes, Senhoras e Senhores. É com grande prazer que participo desta Sessão no curso da qual a excelentíssima Câmara Municipal quis lembrar, por sugestão do Ver. Vicente Dutra, a fausta data de 2 de junho que na história moderna da Itália representa o início de uma nova era. Os Srs. Vereadores que falaram antes de mim, falaram da Itália do passado, e eu quero falar da Itália do presente. Hoje, o povo italiano celebra o 43º aniversário da República e num clima político de real democracia que lhe permitiu a conquista de grandes objetivos no seu desenvolvimento sócio-econômico e cultural. A Itália de hoje não é somente um país rico de belezas naturais, de grandes tradições humanísticas, culturais e artísticas, mas é também um país tecnologicamente evoluído, cuja política externa está constantemente dirigida ao estreitamente da amizade com todos os países. Neste quadro encontram justo lugar as ótimas relações com o grande Brasil, onde a presença italiana constitui desde o século passado um elemento de grande importância na vida sócio-econômica do País, uma presença que se solidificou através de um estreito relacionamento humano e cultural, reduzindo-se numa segura e profunda influência na formação e no desenvolvimento do Brasil atual. O Governo italiano tendo presente estes fortes vínculos e a nova realidade da Itália está promovendo relações mais intensas e profícuas entre os dois países. Para tal fim organizou a grande manifestação atualmente em curso no Brasil e conhecida como “Itália Viva”. Esta “Itália Viva” cuja programação se estenderá por três meses, quer ser o testemunho do caminho percorrido pela Itália nas últimas décadas, quer mostrar o grande caminho do progresso tecnológico ao mesmo tempo que promove a renovação da cultura e da arte. Essa manifestação faz parte de uma série de outras iniciativas político-econômicas que terão a sua realização num acordo de cooperação econômica, técnica e financeira, através do qual se pretende dar um novo impulso a ambas as partes. Nesse vasto programa não poderíamos deixar de incluir o Rio Grande do Sul, em homenagem à consistente comunidade italiana presente nesta Estado. De fato, há duas semanas o povo porto-alegrense teve oportunidade de hospedar a companhia de dança do Teatro Novo de Turim, que ofereceu dois excelentes espetáculos. Depois de amanhã, os desportistas poderão ver a seleção juvenil italiana de futebol num encontro amistoso com análoga seleção rio-grandense. Quanto à parte econômica, tenho o grande prazer de lembrar que duas delegações econômicas chegaram a Porto Alegre durante a última semana para estudar formas de cooperação com pequenas e médias indústrias gaúchas. Tal cooperação encontra lugar no acordo mencionado e que será assinado proximamente em Roma. Exmos Srs. Vereadores, “Itália Viva” deverá revelar aos brasileiros a nova Itália, deverá servir para uma reavaliação da presença italiana neste País e para remover determinados resíduos cristalizados que se referiam a uma diversa imagem italiana, do passado. Essa quer apresentar a Itália que, com dinamismo e determinação se mostra ao mundo com a originalidade das suas iniciativas e das suas inovações, da sua linguagem artística, da sua personalidade lançada no campo empresarial, econômico e cultural. Ela quer ser, antes de mais nada, um convite da Itália ao Brasil com o objetivo de aprofundar e ampliar a mútua colaboração promovendo um intercâmbio inteligente e objetivo que favoreça, em bases reciprocamente vantajosas, um amplo, profundo e duradouro laço entre os nossos dois países irmãos.

Sr. Presidente, Srs. Vereadores, recordando a data da fundação da República Italiana essa excelentíssima Câmara Municipal quis fazer uma homenagem ao meu país, quis confirmar aqueles fortes vínculos de amizade e de sangue que existem entre o Brasil e a Itália e que representam uma garantia para o reforço dos mesmos. Portanto, com sentimentos de gratidão que dirijo à excelentíssima Câmara, aos Srs. Vereadores que falaram e, em particular, ao Ver. Luiz Vicente Dutra, não somente por ser inspirador da iniciativa, mas também pelas palavras que ele dirigiu à Itália, os mais sinceros agradecimentos por essa manifestação expressando, ao mesmo tempo, os mais sinceros votos de felicidades para todos vocês e sempre maior prosperidade para todo o povo brasileiro, para a cidade de Porto Alegre, para o Rio Grande do Sul e para o grande Brasil amigo. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Prezados irmãos italianos, depois dos belos discursos dos companheiros Vereadores representando as nossas Bancadas, representando a Casa, os 33 Vereadores, a cidade de Porto Alegre, vivemos um momento muito significativo nesta manhã para confraternizar e agradecer a grande comunidade da Itália que está em Porto Alegre junto conosco, cujo sangue mesclou-se ao nosso. Então, Cônsul Vittorino, o nosso abraço, e também àqueles italianos que não puderam estar conosco nesta manhã maravilhosa, o nosso abraço e o nosso carinho.

Agradecemos a presença de todos os senhores e senhoras presentes e encerramos os trabalhos desta Sessão Solene.

 

(Levanta-se a Sessão às 12h28min.)

 

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